Ao viver em Eunápolis criaram-se laços inseparáveis entre mim e a cidade que passei a amar, instintivamente, como um ventre do qual nasci. Sem que nenhuma gota de sangue nos ligasse, Eunápolis tornaria-se parte de mim e eu parte dela, por toda a minha vida. Vim para passar 20 anos, no mínimo e já estou com um quarto deste período, com desejo de já renovar por mais uma centena de anos!
Contudo, tristemente, houve um momento que larguei
Eunápolis de mão. Assim, como quem se afasta de uma mãe, mesmo amando-a, por
não mais conseguir compreender a impunidade e obscenidade de governantes
Fraternos com vilipendiamento do erário. Como quem desiste de resgatar um ser
amado que se perdeu no meio do caminho.
Segui em frente minha caminhada predestinada a ser um baiano
tentando ignorar tudo o que, ao longo deste trajeto, me fez sentir vontade de
sentar, chorar e desistir. Fingindo não me afetar com as injustiças causadas
por gestores da cidade que aprendi a chamar de amada Eunápolis. Sofrendo por
ter de admitir que algo havia saído errado no berço em que não nasci, mas do
qual preferiria me orgulhar.
Foi duro ver Eunápolis ser subjugada, ironizada e
discriminada. Afinal, um município não é um simples traçado geográfico inserido
na extensa região do extremo sulbaiano. Eunápolis sou eu e todas as outras
pessoas que atribuem esperança de futuro promissor a ela. A vergonha era de
mim, o fiasco era eu, o fracasso era meu, a tristeza era minha. E Eunápolis
sangrava como cidade mais violenta do país e retrocedendo diante de Porto
Seguro, Teixeira de Freitas, Lauro de Freitas e Camaçari, que eram muito menores
que ela há três décadas!
Ver o monstro da corrupção dos Fraternos crescendo e
prostituindo a gestão que deveria ser justa e gentil, sem que eu pudesse fazer
nada, foi demais para mim. Perdi as forças de levantar a bandeira que estampa a
riqueza que foi roubada, a beleza que foi desfigurada, o orgulho que foi
rasgado. E tudo isto diante de uma Justiça omissa, benevolente e injusta.
Sem orgulho de ser eunapolitano, me tornei um filho
apático e distante, vendo minha Eunápolis se perder, dia a dia, por governantes
que se diziam Fraternos com ela. Sentado sobre a dura estrutura de minha vida
honesta, vi a Quadrilha dos Fraternos estuprando a minha cidade querida,
enquanto gozava o êxtase diante de uma platéia entorpecida.
Vi políticos virando bandidos e vice-versa. Vi corrupto
virando gente importante e rica. Vi a droga invadindo casas e aniquilando
famílias. Vi pessoas sem casa morrendo nas ruas. Vi pobres perecendo nas filas,
dentro dos postos de saúde e hospitais. Vi crianças crescendo por todos os
lados, sem educação. Vi a moral ser assassinada em manchetes de jornais
nacionais. Vi a cultura ser torturada em alto-falantes. Vi o mal fazendo o
discurso em palanque. Vi o demônio sair das urnas para assumir o poder.
De ouvidos atentos, olhos inconformados, boca calada,
minhas mãos atadas não puderam mais versar sobre a minha cidade estuprada. Hoje
eu volto a escrever sobre Eunápolis. A Eunápolis que acordou do sono da
inconsciência e grita, com milhares de vozes, por socorro. Hoje levanto a
bandeira, há muito arriada no peito, e cubro de esperança as imagens
distorcidas pelas letras e vozes aliciadoras de fake news.
Hoje minhas mãos se soltam das amarras da impotência
para, trêmulas de emoção, registrarem o momento em que minha cidade amada
despertou, cheia de promessa de voltar a ser o que um dia sonhei que ela fosse.
Como um vulcão que estava adormecido, o povo de Eunápolis se rebela contra as
mentiras, sabotagens e enganações de rádios sórdidas, ilícitas e parciais, que
endeusam gangster e satanizam seus adversários.
Hoje eu me encho de coragem e peço àqueles que não
compreendem, nem ouvem a voz que clama por R$ 100,00 o voto, que se olhem no
espelho e, se não tiverem orelhas de burro, calculem o que poderia ter sido
feito com cada centavo dos mais de 200 milhões de reais roubados dos cidadãos
honestos e sofridos de Eunápolis.
Hoje eu quero invadir os portões do paraíso da corrupção e retomar, dos cofres dos demônios que lá vivem, a riqueza da minha rica cidade para gozar da herança que me é de direito desde que nela passei a viver. Hoje eu quero redescobrir minha terra adorada e com orgulho poder dizer: Vencemos todos que eram Fraternos com o que havia de pior na política de Eunápolis. – Fora Fraternos e seus comparsas e serviçais. Em Eunápolis, nunca mais ouvirei o grito de Barrabás!
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