A expressão “sexo frágil” é, em si mesma, uma aberração da linguagem, uma ideia mentirosa e preconceituosa, gestada como artifício da arrogância masculina, eis que, por decorrência, tal expressão induz a outra ideia mentirosa, ou seja, a de que o homem, o macho, consequentemente, é o “sexo forte”.
Preciso discordar de tal ideia – conforme já estou discordando, já que esse pensamento é distorcido e estendeu-se, preconceituosa e maliciosamente, a uma pretensa superioridade do homem sobre a mulher como um todo – em dimensões biológicas, emocionais, intelectuais e até espirituais – e isso é científica, social, cultural e moralmente discutível. Essa distorção possibilitou um tipo de hierarquização da sociedade e família em que se confunde lugares e papéis com poder e submissão.
Um aspecto hediondo dessa construção é observado no mundo do trabalho, no privilégio do homem em relação à mulher em questões como acesso a cargos de liderança ou desigualdade de salários. Além disso, durante séculos algumas atividades não foram realizadas pelas mulheres, pois promoveu-se que apenas o homem poderia realizá-las.
Nas últimas décadas, porém, ficou demonstrado que esta construção não tem fundamento: hoje as mulheres desempenham todo tipo de trabalho e tarefas. Há mulheres trabalhando na construção civil, como motoristas de ônibus e caminhões, ou como bombeiras, policiais, mecânicas, eletricistas etc.
E muito mais, ainda: é possível vê-las na liderança de Prefeituras, de Câmaras, de organismos internacionais, de corporações nacionais ou multinacionais, nas mais diversas instituições, negócios, profissões e atividades, bem como na arte e na cultura, e, também, sustentando famílias – e talvez aqui esteja a lâmina mais ferina ao orgulho do homem contemporâneo, que o faz vítima do seu próprio machismo e arrogância: dentro de sua própria casa, ele não ser o provedor.
Enfim, reconheço o machismo estrutural em minhas entranhas, e o reconheço como uma doença moral e mental de nossa sociedade, assim como o reconheço como uma ideologia torpe e insensível, impregnada no sistema econômico e político mundial, nas religiões, na mídia e nas família, causa de muitas mazelas a que todos estamos sujeitos, e não somente as mulheres – e que não nos deixa muito pra onde correr.
Diante disto, posso dizer que uma das minhas esperanças em dias melhores é depositada na possibilidade de cada vez mais as mulheres fazerem valer, perante os homens e si mesmas, o seu lugar e natureza, trazendo mais equilíbrio às nossas deterioradas relações.
Lugar de fala e de ação já expressas por nova feminilidade e novo feminismo em nosso mundo, que reconheço como legítima defesa e estratégia de sobrevivência ante o machismo estrutural que fere, mata, abusa, explora e desrespeita. Fala e ação que precisam ser escutadas, compreendidas e acolhidas pelos homens – e não como deferência de nossa parte.
Se nós, homens, pudermos compreender tudo isso, talvez possamos escrever junto com as mulheres uma nova história, com novas linguagens, sentidos e possibilidades. Sendo efetivos e pacíficos companheiros de caminhada, tal como creio ser a ideia original. Como lidar com tudo isso? Psicanálise, terapia, autoconhecimento!
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Comente no blog do Val Cabral.