No ano passado dois casos barulhentos ocuparam a mídia: os assassinatos de George Floyd nos Estados Unidos e de João Alberto aqui no Brasil. O primeiro envolveu policiais americanos atendendo denúncia de um comerciante fraudado. O outro, por seguranças em uma loja do Carrefour no Rio Grand do Sul. Duas características unem as tragédias: a cor da pele dos mortos (ambos negros) e a brutalidade.
Lembro destes
casos a propósito das notícias desta semana, que, apresentando estatísticas,
sugerem que os negros aqui no Brasil tem muito mais risco de morrer nas mãos da
polícia e de seguranças que os brancos. Os fatos mostram que realmente os
negros são mais atingidos por tiros, mas há uma leitura errada das razões que
levam a isso.
Eles não morrem
por serem negros, mas sim porque são pobres. Sendo mais pobres que os brancos (não
por falta de aptidões, mas por carência de oportunidades) habitam as periferias
das cidades onde a criminalidade impera. Ali a vida está sempre em risco, tanto
disputando espaços com outros delinquentes, quanto abatidos pela polícia.
Neste ambiente
não faltam aliciadores que incentivem as crianças à criminalidade, muito mais
atraente e emocionante que o trabalho diário repetitivo. Os que morreram em
confrontos ou disputas, estão quase sempre armados e não portam armas por serem
negros, brancos ou pardos, mas porque são marginais.
A morte de Floyd
gerou uma onda de indignação mundial, comandada por artistas, mídia e
desportistas. Mas, ao se fixarem na raça da vítima como causa do crime,
deixaram de lado a principal razão que é a condição social. Da mesma forma o
caso do João Alberto nada tem a ver com a cor da pele. Aquilo foi um fato
isolado causado por despreparo dos seguranças, que exageraram no revide, quando
foram atacados pela vítima.
Em indesejada
promiscuidade, os jovens moradores das periferias convivem cara a cara com
ladrões, assassinos e traficantes. Destes, principalmente os egressos dos
presídios são admirados por adolescentes e jovens que repetem suas gírias e
comportamentos. O dialeto aprendido na cadeia é incorporado pelos moços, que os
espalham pela comunidade. Por isso é natural que sejam muito mais abordados
pela polícia, que conhece essas “marcas registradas” e as associam ao
banditismo.
Assim policiais
interpelam pretos, brancos e pardos não pela cor, mas pelo conjunto das
características que sugere intimidade com a bandidagem. Sugiro um experimento:
três rapazes negros vestidos como pessoas da classe média vão passar uma tarde
no shopping. Neste mesmo ambiente estão outros três. Estes são brancos e vestem
roupas que mostram baixa condição social, além de exibirem trejeitos que podem
ser associados à marginalidade. Qual grupo vocês acham que teria mais risco de
ser abordado pelos seguranças?
Estou convencido que não é o dos três negros bem vestidos, porque o preconceito brasileiro é muito maior contra pobres que contra negros. Não afirmo a inexistência de preconceito racial no Brasil, mas ele é infinitamente menor do que a mídia reverbera e está longe da dramaticidade alardeada nas faixas “vidas negras importam”, exibidas por jogadores e artistas ajoelhados.
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