Nem todo um exército nos dá a confiança e a segurança de
médicos, para voltarmos a sorrir como se fossemos palhaços!
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Essa semana visitei
um grande amigo no Hospital Calixto Midlej Filho, onde estava internado para se
submeter a uma operação contra o câncer. Meu amigo, militar, homem orgulhoso e
de ideias acabadas, capaz de julgar os outros de forma definitiva, agora
sucumbia a um defeito do corpo quase octagenário. E vivi a experiência de vê-lo
despojar-se de suas convicções arraigadas, ideias perfeitas, posições
intransigentes e vestir a batinha azul clara que lhe deixava à mostra a bunda
magra, enrugada, para o escrutínio de qualquer civil. Vi então a dúvida em
seus
olhos e busquei responde-la com a fé que roubei dele porque nunca a tive.
Assumi a pose dele: firme, decidido, certo, incapaz de erro. “Vai dar tudo
certo, amigo”. E sustentei o olhar até que o simpático enfermeiro o levasse
para a sala de operações. Esse meu amigo deve estar tendo suas amarguras de
imaginar-se no fim da vida e sentindo se queimando por dentro diante da dúvida
que é a mais humana das questões: e se? No momento em que escrevo esse texto, meu
amigo já deve estar na UTI e ainda há risco para ele. Os médicos e enfermeiros
devem estar debruçando-se sobre os exames, discutindo coisas e circulando em
torno da mesa operatória, com ampolas e cateteres, mexendo no corpo dele - e
meu amigo, como bichinho molhado, com o canto do olho, deve estar procurando
até enquadrar em seu campo de visão, buscando entre os médicos, pelo menos um,
que o tranquilize com a certeza, a convicção que tudo está bem e melhorará. Neste
momento os médicos e enfermeiros reverberam palavras de otimismo: “tá quase
bom, é só consertar mais essa besteirinha aqui e pronto”. Tenho confiança que
esse meu amigo sairá bem daquela UTI, mas recorri a essa sua situação, para
expressar o quanto somos condicionados à esperança de que tudo ficará bem,
ainda que tudo esteja sob à condição extrema de desvantagens e no fio da
navalha!
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