Será que vereadores teriam interesse de serem reeleitos, caso não existissem salários extraordinários e outras benesses? |
O carreirismo político é um fato
negativo para o aperfeiçoamento da atividade, tornando-se empecilho ao
surgimento de novas lideranças, ou seja, de ideias renovadoras e modernizantes.
Um dos segmentos onde se instalou, nas Câmaras Municipais, é o que mais afeta a
população por ser o degrau inicial da política, pois o vereador é o primeiro
representante popular, o mais próximo da comunidade. Sem dúvida o
profissionalismo político nesse âmbito se deve aos altos subsídios e mordomias
legais ou institucionalizadas, aspectos que precisam ser reconsiderados, ainda
que difíceis de enfrentamento porque mudanças dependem dos legisladores, que
são exatamente esses mesmos políticos, sempre indispostos a decisões que
ameacem o corporativismo. A instituição de salários a vereadores começou
efetivamente em 1977 e gradualmente foram sendo estabelecidos extensivos
valores salariais e vantagens pecuniárias até o extremo a que encontramos hoje.
Em muitas cidades o salário dos vereadores é o maior do município para uma ou
no máximo duas reuniões, à noite, por semana, verdadeira afronta ao operariado
que trabalha oito horas por dia em sete dias da semana recebendo
insignificância em comparação ao integrante da Câmara instalado em gabinetes
climatizados e cercados de mordomias diversas. Passou a ter grande importância
eleger-se (ou reeleger-se) para a Câmara Municipal. Para manter o mandato o
vereador usa apelo popularesco e se dedica em tempo quase integral à
assistência social, o que não é, em absoluto, sua função, todavia ele se
transforma em espécie de “despachante do povo” junto aos órgãos públicos de
atendimento social que aceitam e facilitam a intermediação porque o prefeito
também depende do apoio do vereador. O assistencialismo que os vereadores
praticam é, portanto, atividade eleitoreira, não faz parte de suas atribuições
que são: legislar, fiscalizar as ações do executivo e discutir temas de interesse
dos bairros que representam para atendimento das necessidades coletivas,
deixando a assistência social individual a cargo dos organismos próprios. Considerando-se
que o Brasil é um dos poucos países que mantém tais critérios de remuneração
dos vereadores, seria conveniente que a sociedade discutisse o assunto. E
também, que sejam debatidos exemplos de países que adotam outros sistemas sem
prejuízo à administração da cidade. Segundo informação da ONU, entre 181 dos
países filiados o Brasil é o único que remunera vereadores nos moldes que
conhecemos. Na maioria dos demais existem conselhos municipais cuja eleição ou
nomeação dos integrantes diferem, e a remuneração também. Em alguns países são
apenas ressarcidas as despesas pessoais ocorridas em função do desempenho do
cargo, noutros há pagamento de jeton por sessão, gratificação, ajuda de custo
ou até mesmo nada recebem, como na Suécia, onde a atividade é uma espécie de
voluntariado em colaboração aos cidadãos e à administração da cidade. Ninguém
vive do cargo, todos têm suas atividades profissionais. E não há notícia de que
algum haja morrido de fome. No Brasil já foi assim, quando as Câmaras eram
constituídas por Conselhos Comunitários formados por representantes da
sociedade não remunerados, que se dedicavam não a fazer assistência social, mas
sim discutir temas, assuntos e projetos de interesse do município e de seus
cidadãos. O carreirismo e o alto preço das campanhas inibem cidadãos com
disposição para trabalhar, mas com poucas posses para enfrentar os
“profissionais” acabam desestimulados. Em consequência, cai o nível das
representações municipais, existe pouca renovação tanto de nomes quanto de
ideias, o que inevitavelmente redunda em prejuízos aos municípios.
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