Voto é voto: desde que quem
recebeu possa ser eleito, que quem votou possa votar, e que o voto tenha sido
dado de acordo com as regras eleitorais vigentes, o voto é válido. A Justiça
não distingue um voto de protesto de qualquer outro voto. Se o candidato tem
boas propostas ou não, apenas o eleitor pode decidir. Não cabe à Justiça fazer um
filtro sobre a qualidade das propostas dos candidatos. Mesmo porque o que pode
parecer um mero protesto para um eleitor, pode ser algo essencial para
outro. Em uma democracia, não é possível simplesmente dizer ‘você pode
votar em quem quiser, mas não em fulano’. Mas há dois elementos que
precisamos considerar. O primeiro é a diferença entre objetivo e forma. O
segundo, é a diferença entre poder e dever. Ainda que o objetivo seja
protestar, a forma de protestar pode não ser a forma que trará melhores
resultados para quem protesta. Compare o voto de protesto com uma manifestação
de rua com o mesmo objetivo, por exemplo. A forma possibilita ajustes. Se a
manifestação não deu certo hoje, amanhã pode haver uma outra, diferente, e com
as lições aprendidas com o fracasso de hoje. No caso do voto, as consequências
se estendem por anos. Não há chance de ajustes no curto prazo. O segundo ponto
é que poder não é a mesma coisa de dever. A lei diz que a pessoa pode se casar,
ela não diz que a pessoa deve se casar. Cabe a cada um ponderar se o casamento
é algo que atenda a seus interesses. O mesmo vale para o voto em uma
democracia: poder votar em qualquer um não significa dever votar em qualquer
um. Cabe ao eleitor ponderar se tal candidato conseguirá cumprir os objetivos
almejados pelo eleitor. O problema é mais importante e presente do que parece. No
Brasil, por exemplo, o deputado federal mais votado nas eleições de 2009 tinha
como plataforma ‘não sei o que um deputado faz’. Em 1988, quando ainda usávamos
cédulas de papel, os eleitores cariocas deram mais de 400 mil votos para
prefeito ao macaco Simão, um simpático habitante do zoológico local. Foi o
terceiro mais votado naquela eleição. Quase sempre vemos o voto de protesto
como um voto por falta de opção melhor. Mas o que pode parecer um voto por
falta de opção pode ser uma opção ainda pior. Vale lembrar que em uma
democracia, não há direito sem obrigação. Temos o direito de votar em quem
quisermos, mas temos a obrigação de aceitarmos as consequências de nossas
opções.
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