Em um trecho da canção “Vaca
Profana”, o cantor e compositor Caetano Veloso diz que “de perto ninguém é
normal”. De fato, é difícil apontar alguém que não tenha as suas manias ou os
seus momentos de desequilíbrio emocional, nos quais se perde – mesmo que por
alguns instantes – o fio condutor da razão. Ser louco pode significar, em
algumas circunstâncias, ter coragem de tomar decisões ou de dar um passo na
vida até então tidos como impossíveis... Ser louco pode implicar ainda adotar
um pensamento ou uma conduta que venham a ferir os parâmetros convencionais de
normalidade de uma sociedade. “Mais louco é quem me diz e não é feliz”,
eternizaram Arnaldo Baptista e Rita Lee na música “Balada do Louco”, retrucando
nitidamente o rótulo ganho por eles e seus companheiros dos Mutantes – uma das
melhores bandas nacionais de rock que já se teve notícias. Ter um comportamento
incompreensível para o próprio tempo em que se viveu pode resultar exatamente
em rótulos que demoram para ser desfeitos. Antes de chegar a ser apontado pelas
religiões ocidentais como o maior mártir de todos os tempos, o Jesus histórico
foi, antes, tido como um louco por inúmeros de seus contemporâneos. Não deve
ser considerado “normal” aquele que se desprende de tudo e de todos em busca da
aventura maior que é encontrar a si mesmo, ou de promessas extraordinárias, ou
inacreditáveis! Até o momento abordei basicamente uma forma parecida de
enxergar a loucura. No entanto, há ainda aqueles que perdem todas as
referências da realidade, seja por problemas hereditários, seja por qualquer
outro que os faça perder suas faculdades mentais. Estes, quando não são criados
desmazeladamente por suas famílias, terminam seus dias nos manicômios, que, em
sua maioria, existem como verdadeiros depósitos de doentes. Isso para não falar
dos métodos brutais que já fizeram história em inúmeras reportagens de denúncia
da mídia escrita e televisada, a exemplo do uso de eletrochoques e de remédios
dopantes, além do abandono que coloca muitos pacientes na condição de bichos
relegados. A maior loucura não está dentro dos hospitais psiquiátricos ou
andando sem rumo pelas ruas das cidades do mundo. Está nos atos tidos como
racionais, de pessoas tidas como normais, que só provocam a desigualdade, a
miséria e a infelicidade, mas que são postos em prática em nome da ordem e do
progresso.
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