As afinidades interpessoais, sobretudo aquelas que se tornam intensas durante algum tipo de relacionamento afetivo, revelam a possibilidade de comodidade, entre aqueles ligados pelo querer intrínseco ao ato sublime da constituição de intimidade, sobretudo no conforto do outro. Por esta razão, nessa dialética afetiva, torna-se tão banal a vontade voluntária de gratuitamente nos despirmos de todo e qualquer pudor ou escrúpulo, para a partir daí, assumirmos realmente quem somos, em nossa singularidade. Dessa forma, abertos ao diálogo com o outro, nos expomos espontaneamente à análise e à crítica daquele que se constitui, enquanto interlocutor ativo e interessado, no que somos e naquilo que realmente representamos enquanto entes existenciais. Por isso, perdas e reencontros são banalizações da existência, portanto, em momento algum podem ser negados ou desprezados, pois fazem da vida humana, nesse constate fluxo e refluxo em direção as incertezas de um vir a ser, ratificadores enormes da dinâmica apropriada às relações do gênero humano. Contudo, presos as significações simbólicas de nosso "ser-no-mundo", encaramos as dificuldades de auto-afirmação como metas a serem atingidas desesperadamente, enquanto pontes contínuas e ininterruptas entre o nosso eu e o eu do outro, tendo em vista, objetivamente, a necessidade de certo "sentir-seguro", nos lançamos livres e desinibidos na singularidade daquela figura representativamente tão humana quanto nós mesmos; contudo, possuidora da raiz mais profunda de nossa intimidade, conformada à realidade existencial do outro. Rememoramos o passado continuamente, por acharmos escondido entre seus escombros, resquícios de momentos de íntimo sentimento de conforto, ao qual podemos naturalmente traduzir como sendo uma agradável sensação de prazer, que se perdera ao longo do tempo integralmente, entretanto, ainda guarda em si mesma certa carga extraordinária de experiências que nos tornam o que somos: amantes incondicionais do delicioso e enigmático ato de viver coletivamente. Essas recordações, entretanto, se constroem a partir das interações afetivas, fugazes ou não, as quais marcaram fidedignamente nossa existência como algo a se processar no mundo e com o mundo, através de doações de significados estabelecidos entre a nossa realidade e a realidade do outro, isto é, no conforto ou não de nossas intimidades, embora nem todas as relações sejam realmente boas. Quando nos relacionamos com alguém, sempre, de forma consciente ou não, buscamos nossas idealizações mais íntimas. E, na maioria das vezes, mesmo parecendo impossível, tentamos moldar o ser amado ou desejado, de acordo com o que esperamos dele. Tudo isso em busca de um pressuposto conforto de intimidades, na esperança de consolidar, de algum modo, para si mesmo e para os outros, na grande maioria dos casos principalmente, a inalienabilidade da satisfação alcançada na imagem prefigurada do outro, em harmonia com as demandas, sejam elas reais ou não, criadas por nós mesmos, para justificarmos a apropriação daquele o qual simboliza a satisfação de nossa hipotética necessidade de auto-afrimação, ou seja, a segurança de nossa intimidade assumida como algo que não depende, apenas, de nossa subjetividade. Há indescritível deleite quando, seguros da saciedade de nossas aspirações, abraçamos o outro como se fosse parte componente indispensável da dimensão humana singular, sedimentada nessa enorme carga emotiva e sensitiva que somos todos nós. E, embora relutemos bastante em aceitar, precisamos perceber nossas limitações angustiantes, para vermos, somente assim, com extrema naturalidade, a completude que se faz em nós pelo outro. Porém, em momento algum, podemos nos esquecer da indissociablidade, ao longo desse processo, da importância assumida por nosso ser relacional e singular dentro dessa relação dicotômica e, a empatia indispensável para a acomodação do outro em nós mesmos, a qual deve ser essencialmente de interdependência, no conforto de intimidades respeitáveis e, principalmente, cúmplices de uma vivência marcada por doações recíprocas e incondicionais de afetividade. Por isso, em circunstância nenhuma, deverá haver o aprisionamento de um pelo outro, mas apenas uma cumplicidade absurdamente variada de doações, trocas e renuncias, para sermos um a alegria deliciosa e aconchegante do outro.
O mais importante em nossas relações interpessoais é evoluir.
ResponderExcluirNão tem como regredir, até o negativo faz evoluir, dentro do seu campo.
Se a evolução é boa ou má, depende das relações.
Humberto Campos
A quantidade de relações humanas só nos massacra, ficamos tão confusos e perdidos que deixamos até de saber quem somos para poder conviver com tantos e tão diferentes tipos, temos até que usar a maldita máscara da hipocrisia para que tudo dê certo, e isso é a própria estagnação.
ResponderExcluirA qualidade das relações humanas é que nos faz evoluir.
Troca de conhecimento e cultura sempre são sinônimos de evolução.
ResponderExcluirNunes
Isso nasce da aceitação, desprendimento e acolhimento, e no mundo atribulado em que vivemos às vezes não nos damos conta disto.
ResponderExcluirRelacionar-se é dar e receber ao mesmo tempo, é abrir-se para o novo.
Passamos mais tempo em nosso ambiente de trabalho do que em nosso lar, e ainda assim não nos damos conta de como é importante estar em um ambiente saudável, e o quanto isto depende de cada um de nós.
Paulo Sérgio N. Barreto