Ilhéus logo vai completar 500 anos. É uma das poucas cidades no Brasil a ter vivido tanto tempo assim e, como jovem senhora que é, tem muita história para contar. Muitas delas, pouca gente conhece direito. Um patrimônio vivo que insiste em existir mesmo quando a gente escolhe ver só o que é bonito ou se revolta por conveniência.
Nestes últimos dias, a cultura tem pulsado por aqui. Da
FLIE, no Colégio Arléo Barbosa, uma festa literária feita pelos jovens
estudantes, que trouxe as nossas raízes africanas como tema. Me fez lembrar
Ailton Krenak, ao falar que “o futuro é ancestral”. Nunca podemos nos descolar
dessa forma de enxergar o nosso mundo.
Agora, um dos maiores festivais sobre chocolate e cacau
acontece no Centro de Convenções. O Chocolat Bahia 2025 hoje é uma potência
mundial, mas nasceu daqui, do nosso chão e do nosso fruto do ouro. Um festival
que valoriza os nossos produtores, os nossos comerciantes e ainda promove um
grande intercâmbio de culturas, técnicas e sabores. E julho ainda nos brinda
com a FLI, mais uma festa dedicada aos livros, aos amantes das letras e das
viagens pelas páginas. Um evento que está cada vez mais fortalecido e que neste
ano traz Jessé Souza, escritor, sociólogo, professor e uma autoridade quando
falamos de Brasil profundo. Outros grandes escritores e escritoras também
prestigiam a festa, assim como músicos, editoras e todos que amam esse universo
de conhecimento.
Isso tudo para recebermos agosto, o mês de Jorge Amado, um
dos maiores escritores do mundo, que dedicou o seu amor a Ilhéus e a toda
aquela história que a jovem senhora vem tentando nos contar ao longo do tempo.
Foi aí que parei para pensar sobre o nosso papel como ilheenses. Pensar no amor
que sinto e que acredito que cada um, mesmo que do seu jeito, também sinta. E
mais: me perguntei o que estamos fazendo com esse amor.
Isso me inquietou e, por isso, uso este espaço talvez para
provocar, para tentar fazer ecoar essa reflexão.
Ilhéus é maravilhosa e nos enche os olhos para onde quer
que olhemos. Mas amar a nossa terra não pode ser apenas compartilhar fotos
bonitas no Instagram. Amar é cuidar. Desde as pequenas coisas até aquilo que
achamos não ter força para mudar, mas que juntos, com certeza podemos
transformar. Amar é cuidar da calçada, participar das decisões, reclamar quando
precisa e, principalmente, fazer acontecer. Mesmo que seja no simples gesto
diário de não jogar lixo na rua, de apoiar quem trabalha, de não se calar
diante do abandono.
Para Jorge Amado, Ilhéus era muito mais que um pedaço de
terra. Era uma alma, um estado de espírito capaz de carregar toda a força de um
povo. E para nós, o que significa sermos ilheenses e carregarmos tal
responsabilidade? Esperar pelo poder público? Querer que algum milagre
aconteça? Ou apenas ficar olhando os problemas passarem pela nossa frente? Isso
não é amar.
Não dá para ficarmos esperando. Ilhéus é nossa antes de ser
dos políticos, dos turistas, de quem quer que seja. Ilhéus é do povo ilheense e
só quando nos entendermos como donos é que vamos passar a nos tornar cúmplices,
vigias. Só assim seremos realmente donos da nossa cultura, donos do nosso chão
e donos do nosso futuro.
Não é sobre esperar. É sobre levantar a cabeça, olhar para
o chão que pisamos e perceber o tamanho da potência que temos aqui. O cacau que
voltou a ser ouro, as praias que falam por si, a mata preservada, o sorriso do
bom anfitrião, nossos artistas, nossos jovens, nossos trabalhadores. Todos nós
somos parte dessa história e podemos fazer muito por ela. É a nossa vez de
escrevê-la, mas para isso precisamos realmente colocar o nosso amor por Ilhéus
nas pontas de nossas canetas.
É por isso que resolvi escrever esse desabafo. De certa
forma, um manifesto e uma declaração de amor. Um amor que quer participar cada
vez mais, quer fazer a diferença cada vez mais, para assim passar a cumprir
realmente o meu papel de ilheense orgulhoso por esse chão.
Quero também aproveitar esse espaço para convidar você a
essa reflexão. Quero lhe perguntar: o que você tem feito para nutrir o amor que
sente por Ilhéus? Aprendi que amor é cuidado, é interesse. Por isso chamo você
para se interessar mais pela nossa querida Ilhéus. Não só pela parte boa, mas
também pelo que estamos fazendo para manter essa parte boa e, mais ainda, pelo
que podemos fazer para transformar o que precisa ser transformado.
E se “a vida é a arte do encontro”, que esse encontro seja
com a nossa Ilhéus. De verdade, de coração aberto, de braços dados e mãos dadas
para mudar o que precisa mudar.
É… e se Ilhéus fosse nossa de verdade? - Por Emenson Silva.
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