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19 de julho de 2025

E SE ILHÉUS FOSSE NOSSA DE VERDADE?

   

Emenson Silva nos convida para a seguinte reflexão: “O que você tem feito para nutrir o amor que sente por Ilhéus?”

Ilhéus logo vai completar 500 anos. É uma das poucas cidades no Brasil a ter vivido tanto tempo assim e, como jovem senhora que é, tem muita história para contar. Muitas delas, pouca gente conhece direito. Um patrimônio vivo que insiste em existir mesmo quando a gente escolhe ver só o que é bonito ou se revolta por conveniência.

Nestes últimos dias, a cultura tem pulsado por aqui. Da FLIE, no Colégio Arléo Barbosa, uma festa literária feita pelos jovens estudantes, que trouxe as nossas raízes africanas como tema. Me fez lembrar Ailton Krenak, ao falar que “o futuro é ancestral”. Nunca podemos nos descolar dessa forma de enxergar o nosso mundo.

Agora, um dos maiores festivais sobre chocolate e cacau acontece no Centro de Convenções. O Chocolat Bahia 2025 hoje é uma potência mundial, mas nasceu daqui, do nosso chão e do nosso fruto do ouro. Um festival que valoriza os nossos produtores, os nossos comerciantes e ainda promove um grande intercâmbio de culturas, técnicas e sabores. E julho ainda nos brinda com a FLI, mais uma festa dedicada aos livros, aos amantes das letras e das viagens pelas páginas. Um evento que está cada vez mais fortalecido e que neste ano traz Jessé Souza, escritor, sociólogo, professor e uma autoridade quando falamos de Brasil profundo. Outros grandes escritores e escritoras também prestigiam a festa, assim como músicos, editoras e todos que amam esse universo de conhecimento.

Isso tudo para recebermos agosto, o mês de Jorge Amado, um dos maiores escritores do mundo, que dedicou o seu amor a Ilhéus e a toda aquela história que a jovem senhora vem tentando nos contar ao longo do tempo. Foi aí que parei para pensar sobre o nosso papel como ilheenses. Pensar no amor que sinto e que acredito que cada um, mesmo que do seu jeito, também sinta. E mais: me perguntei o que estamos fazendo com esse amor.

Isso me inquietou e, por isso, uso este espaço talvez para provocar, para tentar fazer ecoar essa reflexão.

Ilhéus é maravilhosa e nos enche os olhos para onde quer que olhemos. Mas amar a nossa terra não pode ser apenas compartilhar fotos bonitas no Instagram. Amar é cuidar. Desde as pequenas coisas até aquilo que achamos não ter força para mudar, mas que juntos, com certeza podemos transformar. Amar é cuidar da calçada, participar das decisões, reclamar quando precisa e, principalmente, fazer acontecer. Mesmo que seja no simples gesto diário de não jogar lixo na rua, de apoiar quem trabalha, de não se calar diante do abandono.

Para Jorge Amado, Ilhéus era muito mais que um pedaço de terra. Era uma alma, um estado de espírito capaz de carregar toda a força de um povo. E para nós, o que significa sermos ilheenses e carregarmos tal responsabilidade? Esperar pelo poder público? Querer que algum milagre aconteça? Ou apenas ficar olhando os problemas passarem pela nossa frente? Isso não é amar.

Não dá para ficarmos esperando. Ilhéus é nossa antes de ser dos políticos, dos turistas, de quem quer que seja. Ilhéus é do povo ilheense e só quando nos entendermos como donos é que vamos passar a nos tornar cúmplices, vigias. Só assim seremos realmente donos da nossa cultura, donos do nosso chão e donos do nosso futuro.

Não é sobre esperar. É sobre levantar a cabeça, olhar para o chão que pisamos e perceber o tamanho da potência que temos aqui. O cacau que voltou a ser ouro, as praias que falam por si, a mata preservada, o sorriso do bom anfitrião, nossos artistas, nossos jovens, nossos trabalhadores. Todos nós somos parte dessa história e podemos fazer muito por ela. É a nossa vez de escrevê-la, mas para isso precisamos realmente colocar o nosso amor por Ilhéus nas pontas de nossas canetas.

É por isso que resolvi escrever esse desabafo. De certa forma, um manifesto e uma declaração de amor. Um amor que quer participar cada vez mais, quer fazer a diferença cada vez mais, para assim passar a cumprir realmente o meu papel de ilheense orgulhoso por esse chão.

Quero também aproveitar esse espaço para convidar você a essa reflexão. Quero lhe perguntar: o que você tem feito para nutrir o amor que sente por Ilhéus? Aprendi que amor é cuidado, é interesse. Por isso chamo você para se interessar mais pela nossa querida Ilhéus. Não só pela parte boa, mas também pelo que estamos fazendo para manter essa parte boa e, mais ainda, pelo que podemos fazer para transformar o que precisa ser transformado.

E se “a vida é a arte do encontro”, que esse encontro seja com a nossa Ilhéus. De verdade, de coração aberto, de braços dados e mãos dadas para mudar o que precisa mudar.

É… e se Ilhéus fosse nossa de verdade? - Por Emenson Silva.

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