Depois de um primeiro turno longe dos palanques, o presidente Lula (PT) decidiu se engajar na campanha eleitoral, privilegiando cidades onde o PT e partidos aliados têm mais chances de vitória neste segundo turno. Por outro lado, tem mantido distância de cidades onde o cenário é considerado difícil, caso de Porto Alegre, e capitais em que uma visita do presidente poderia prejudicar a campanha, como Cuiabá.
Entre
interlocutores de Lula, há uma avaliação de que embarcar em campanhas com menos
chances de prosperar pode trazer a derrota para o colo do presidente. A
participação de Lula no segundo turno seria encurtada em razão da viagem à
Rússia para participar da cúpula dos Brics, a partir da próxima terça (22) e
que não mais acontecerá em virtude de um suposto acidente que sofreu em casa. O
mandatário ficaria fora do país ao longo da semana, voltando apenas para fechar
a campanha de Guilherme Boulos (PSOL).
Estava
programa para os últimos oito dias, que o presidente faria um périplo por seis
cidades: Fortaleza, Natal, Camaçari (BA), Mauá (SP), Diadema (SP) e São Paulo.
O engajamento contrasta com o primeiro turno, quando Lula fez campanha
presencialmente apenas na capital paulista. Aliados cobravam maior participação
do presidente, sobretudo após o desempenho do PT, considerado abaixo das
expectativas no primeiro turno. O partido não venceu em nenhuma capital e
chegou ao segundo turno em 13 cidades, incluindo Fortaleza, Natal, Cuiabá e
Porto Alegre.
A estratégia principal, segundo interlocutores do
Planalto, era fortalecer campanhas petistas ou mesmo de aliados da chamada frente
ampla em locais onde o adversário é um bolsonarista ou símbolo da direita mais
radical. A primeira agenda foi no dia 11 em Fortaleza, maior colégio eleitoral
disputado por um candidato do PT. O deputado estadual petista Evandro Leitão
trava uma disputa acirrada com o deputado federal André Fernandes (PL),
representante do bolsonarismo.
Pesquisa Datafolha divulgada na quinta-feira (17) aponta
empate técnico --André Fernandes aparece com 45% das intenções de voto contra
43% do petista. Leitão deixou o PDT para se filiar ano passado no PT. Na
quarta-feira (16), Lula desembarcou em Natal para alavancar a candidatura de
Natália Bonavides (PT), deputada federal em segundo mandato e vista como uma
das principais promessas de renovação no partido.
Ela disputa o segundo turno contra Paulinho Freire (União
Brasil), apoiado pela base bolsonarista. No primeiro turno, Bonavides ficou em
segundo lugar, mas petistas avaliam que a candidatura está numa crescente. "A
eleição da Natália é a volta por cima que a gente vai dar", disse o
presidente, que comparou a decisão de votar em um candidato a prefeito à
escolha de um padrinho ou madrinha para o filho.
Lula viajou
no dia seguinte à Bahia por um antigo aliado: Luiz Caetano (PT), que concorre à
Prefeitura de Camaçari pela quarta vez. A cidade de 300 mil habitantes é o
berço eleitoral do PT baiano. No primeiro turno, Caetano teve 49,5% dos votos
contra R$ 49,1% de Flávio Matos (União Brasil). O presidente ficara distante da
Bahia no primeiro turno e teve uma atuação tímida, com um único vídeo gravado,
para o candidato a prefeito de Salvador Geraldo Júnior (MDB), que terminou a
eleição em terceiro lugar mesmo com o apoio do PT.
Em Camaçari, Lula foi recebido em um megacomício com uma
multidão vestida de vermelho e empunhando bandeiras do PT. Chorou no discurso
ao relembrar da própria trajetória, fustigou o ex-presidente Jair Bolsonaro
(PL) e chegou a afirmar que "ninguém foi mais de esquerda do que Jesus
Cristo". Nesta sexta-feira (18), após cumprir uma agenda administrativa em
São Paulo, Lula foi para Mauá e Diadema para participar de comícios e alavancar
as respectivas candidaturas dos prefeitos Marcelo Oliveira (PT) e José de
Filippi Junior (PT).
O presidente retornou a São Paulo no sábado (19) para
participar de caminhadas no Grajaú e na Cidade São Mateus ao lado de Boulos,
mas foram canceladas em virtude das fortes chuvas. Ele fez uma live ao lado de
Boulos. O presidente, por outro lado, deixou de ir a Porto Alegre, onde Maria
do Rosário (PT) disputa o segundo turno contra o atual prefeito, Sebastião Melo
(MDB). Inicialmente considerada como uma das apostas do PT, por causa do
desgaste de Melo com as enchentes do primeiro semestre, a petista não conseguiu
deslanchar. O Planalto chegou a avaliar viagem de Lula a Porto Alegre, para a
reabertura do aeroporto Salgado Filho. Decidiu, no entanto, priorizar os
eventos em São Paulo.
Lula também
deixou de fora de seu roteiro eleitoral a região Centro-Oeste, em particular
Cuiabá, onde Lúdio Cabral (PT) surpreendeu e avançou ao segundo turno contra o
bolsonarista Abilio Brunini (PL). O petista esteve em Brasília logo após o
primeiro turno e gravou vídeos com o presidente. Integrantes do PT avaliam que
não valeria o esforço convencer Lula a visitar Cuiabá, em particular ao
considerar a rejeição que o presidente enfrenta na região - um dos centros do
agronegócio, simpático a Bolsonaro.
Em um reduto conservador, Lúdio Cabral gravou vídeo no qual se opõe ao aborto, à legalização de drogas e diz ser contra "ideologia de gênero" nas escolas, parte central do discurso bolsonarista. Um de seus principais cabos eleitorais é o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro (PSD), cuja filha Rafaela é vice na chapa petista.
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