Há uma quantidade preponderante de eleitores que apoiam e votam em candidatos corruptos e este fato provoca perplexidade em pessoas instruídas, éticas, sérias e honestas, que comentam nas redes: “como isso é possível”, “que povo é esse” que ainda vota em “gente assim tão desqualificada”; “que País é esse?” “Vou me embora desse antro de tupiniquins” e por aí vai.
Nossa memória é a grande responsável por essa tragédia ética. É verdade que alguns eleitores trocam o voto por dinheiro ou dentaduras, ou sapatos, ou celulares no dia da eleição. Mas isso é uma minoria. São as massas (de todas as classes sociais: elites e classes A, B, C, D e E), no entanto, que decidem as eleições (e que votam nos corruptos). Não é crível que os eleitores de corruptos como o Geraldo Cabeça de Pitu sejam apenas das classes sociais do topo ou da base da pirâmide. Todas as classes sociais votam em bandido do colarinho branco. Como isso acontece?
Dentre outras, as explicações neuropolítica parecem interessantes. Nosso cérebro memoriza e aprende as coisas da vida por meio dos êxitos, não dos fracassos. O homo sapiens, nos primórdios, aprendeu a caçar suas presas pelos êxitos, não pelos erros. Fracassos nós deixamos de lado rapidamente. Quem gosta dos nossos fracassos são os nossos inimigos. Deixe-os então para eles. Nós gostamos dos êxitos. A verdade é que nossa memória registra pouco dos nossos fracassos (e provoca poucas mudanças estruturais e comportamentais). É por isso que, como se diz popularmente, “somos o único animal que tropeça duas vezes na mesma pedra”.
O que mais queremos na vida são as recompensas, as vantagens, os benefícios, a sensação de bem-estar, a satisfação dos interesses, o prazer, a alegria, enfim, as coisas boas. Ninguém se interna num hospital para passar umas férias. Nas nossas ações diárias, quando ativamos esse sistema de recompensa, queremos resultados positivos (bons, prazerosos). Se eles acontecem, nossa memória (por força de uma série de mecanismos cerebrais) registra o ocorrido e nos faz aprender, ou seja, nos faz reproduzir no futuro o mesmo comportamento para obter novas recompensas.
Se votamos ou apoiamos um político e ele nos traz benefícios e melhoras na nossa qualidade de vida, nosso cérebro aprende que a reprodução do mesmo gesto ou voto pode gerar novos estímulos de recompensa. Esse é o fenômeno que explica, por exemplo, a eleição do atual presidente da república Lula. O povo esperava dele novas retribuições. Os políticos experientes sabem que as massas dão prêmios ao passado de êxitos (repita-se: ainda que se trate de um corrpto, ou de um populista, isso acontece); elas reconhecem o que de bom foi feito para elas.
Como se vê, é a memoria que desencadeia o processo de aprendizagem e de memorização no sentido de que repetindo o mesmo gesto ou ato (ou voto) vamos conseguir no futuro as mesmas felicidades. Repetimos o voto em quem nos produz recompensas e alegrias. Detalhe fundamental: nosso cérebro suporta o aumento de impostos, a redução dos direitos, tanto individuais como os sociais, as decisões impopulares (cortes de gastos) e até mesmo a corrupção do político, desde que ele nos tenha proporcionado recompensas.
Moralidade (ou imoralidade) da história: para o cérebro humano “feliz” (recompensado pelo trabalho do político), em regra, não importa (ou não importa muito) eventual envolvimento dele e, com certeza, do seu partido, com a corrupção. Grande parcela das massas tolera até mesmo essa barbaridade ética. Quando as massas não são recompensadas e ficam iradas, até uma recusa de ser vacinado, ou suseitar da lisura das urnas eletrônicas, são suficientes para justificar o cartão vermelho.
Sob benefícios pessoais, os olhos se fecham, os ouvidos são tapados e as bocas se calam. É assim que a putrefação ética se espalha na vida pública. As explicações sobre alienação e peleguismo podem ser contestadas, mas nos fazem pensar e dispensar a mínima possibilidade de apoiar e votar em bandidos do colarinho branco, como o Geraldo cabeça de Pitu!
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