Há 33 anos minha Nice voltou ao céu e nos deixou uma saudade profunda e infinita
A frase até pode parecer chavão, mas é absolutamente verídica: somente quem perdeu a sua mãe é capaz de saber a falta que faz nas nossas vidas aquela que é um verdadeiro anjo. Um filho sem mãe é uma criatura que sempre carregará consigo, no fundo do seu coração, uma saudade latente, profunda, doída, de quem conhece mais do que ninguém o exato significado da palavra desamparo.
Não que seja infeliz, claro; ele há de possuir os filhos, a mulher amada, os bons amigos, talvez até mesmo um cachorro que lhe ame gratuitamente. Mas a parte do seu coração que lhe foi subtraída, aquele colo sempre disponível, aqueles ouvidos que sabiam lhe escutar como nenhum outro, aquele olhar terno que compreendia cada uma das suas falhas, que enxergava a nuvem de tristeza que lhe encobria a alma, que penetrava nas suas retinas e, sem dizer palavra alguma, era capaz de lhe consolar e lhe amparar na pior das tormentas, essas coisas todas que apenas a mãe, unicamente ela, pode nos oferecer – e tudo isso se esvai, triste e irremediavelmente, quando a gente deposita numa sepultura o corpo daquela que nos trouxe à luz.
Mãe e morte são palavras que em nada combinam, palavras que se rejeitam por sua própria essência: morte é fim, mãe é permanência; morte é chuva tristonha, mãe é dia de sol em alvoroço; morte é choro, mãe é gargalhada; morte é lábio frio, mãe é abraço quente e apertado. Se há duas coisas opostas, estas são morte e mãe, e um filho só sabe o que é sombra quando estende o braço para pegar na alça do caixão da sua velhinha, que às vezes nem velha é.
Uma mãe muda, inerte, rígida, gelada, é a última cena que um filho quer testemunhar. E quando o faz – ah, meu Deus! – com que dor, com que tristeza, com que angústia ele olha para dentro de si mesmo, procurando em vão o laço desfeito que o atava ao melhor do que ele fora, e que por algum milagre ainda sobrevivia graças à presença que agora deixou de existir. A cada vez que parte uma mãe, surge um filho com motivo para chorar. Ele pode até esconder as lágrimas, sabe-se lá por quais razões. Mas dentro do seu peito um menino, entre assustado e surpreso, nunca mais vai deixar de soluçar em silêncio.
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