Todo mundo sabe que “a palavra tem poder”. A palavra pode machucar, pode incentivar. Já tem um tempo que comecei a prestar atenção na escolha das palavras. Muita gente tem levantado questionamentos sobre isso, especialmente dentro da mídia.
Um adolescente
negro é preso por suspeita de estar com drogas, e antes mesmo que se finalizem
as investigações, a chamada diz “Traficante preso”. Um jovem branco, quase
sempre de classe alta, é preso com quilos e quilos de drogas em seu veículo, e
a chamada diz “Universitário é investigado por suspeita”.
Por algum tempo me
questionei sobre o quanto os jornalistas, redatores, e seja lá quem estivesse por trás de tantas manchetes, teriam consciência na escolha das palavras. Seria apenas consequência do racismo estrutural? Ou algo pensado e intencionado?O interesse
político por trás dessas manobras do idioma fica claro quando analisamos as
manchetes de manifestações. Quando pessoas foram às ruas, pedindo o direito de
suas próprias vidas, no movimento mundialmente conhecido “Vidas Negras Importam”,
foram escolhidas palavras como tumultuantes, baderneiros, vândalos.
Até mesmo a palavra
“militantes”, utilizada à décadas para denominar aquele que defende ativamente
uma causa, foi cuidadosamente associada a movimentos comunistas, socialistas,
incentivando extremistas de direita a associarem a palavra negativamente.
Ao assistir as
imagens do Capitólio sendo invadido me vieram à mente dezenas de filmes
hollywoodianos. O roteiro é previsível – uma ameaça terrorista estrangeira, um
policial com passado traumático que se vê preso dentro da Casa Branca e é responsável
por salvar a nação.
Dez pontos para
cada cena da bandeira americana caindo em câmera lenta, trêmula, em meio à
fumaça causada pelo caos da invasão. Talvez (e esse é um talvez um tanto
irônico) esse Estados Unidos promovido em tantos filmes de ação e suspense se
mostrasse, com seu poder de fogo e organizada segurança nacional, caso a invasão
fosse negra ou estrangeira.
As manchetes
diriam que terroristas ameaçaram a democracia. Mas as manchetes dizem
“manifestantes”. Eles quebraram, invadiram, destruíram, ameaçaram e enfrentaram
aquela que sempre se colocou como a força policial mais potente do mundo.
Por muito menos,
na verdade, por absolutamente nenhum motivo que não fosse preconceito, negros
norte americanos perderam suas vidas. Quando o terrorismo é praticado por
homens brancos de extrema direita, que ameaçam a democracia abertamente, sem
medo, muito pelo contrário, bradando um orgulho abismal de sua violência (nesse
caso assustador), a força policial escolhe o diálogo, afinal, são apenas
manifestantes.
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