Um olhar pode
dizer o que milhões de palavras não diriam!
A
dificuldade de olhar pode levar a caminhos incompreensíveis, que somente
explorando o nosso olhar podemos entender o que há de mais precioso em nós. Quantas
vezes olhamos para algo e não conseguimos interpretar? Estamos vendo, mas não
estamos conseguindo olhar!
Olhar é diferente de ver. Ver é
inerente, faz parte da nossa visão, vemos apenas porque vemos. Pode até ser
complexo este conceito, mas o olhar vai muito mais além que o simples ato de
ver. Muitas vezes estamos diante de uma imagem, vemos, mas não enxergamos o seu
significado real. Isso acontece porque nosso olhar não está apurado ou nosso
inconsciente não quer nos deixar aprofundar naquilo que poderá ou não nos
trazer alguma dor ou sofrimento.
Olhar implica em interiorização, em
complexidade, pede compreensão para nós mesmos, é uma experiência única,
individual. O ver é imediato, é frio, sem interesse, não aguça nossa vivência,
não traz ação e não provoca atitudes. Já o olhar é lento, é analítico, traz
sentimento, sensibilidade, requer atenção, minúcias, perspicácia, contemplação.
Olhar é ponderação, exige dedicação
e profundidade interior. Olhar nos remete a um mergulho na nossa alma, no nosso
eu mais profundo. Olhar pode perturbar, angustiar, provocar reações que algumas
vezes negamos em nós e no outro. Muitas vezes temos tanta dificuldade de olhar
que não conseguimos enxergar o que há por trás de uma situação e demoramos a
entender suas metáforas.
Quantas situações somos enganados apenas
por que temos dificuldade de olhar? É algo comum, corriqueiro e podemos
compreender isso ao vermos uma imagem. Muitas pessoas conseguem vê-la e
enxergá-la na íntegra, mas para aqueles que possuem dificuldade em olhar, a
imagem poderá passar despercebida nos seus detalhes, fazendo apenas com que ela
seja vista.
No ver não há mediação, não há
conexão, não há lentidão, pois a ansiedade de ver é maior e faz com que não
haja apreciação, mas somente imediatismo. Pessoas ansiosas tendem a isso, uma
vez que não são pacientes e, em muitas situações, recusam-se a parar e a olhar,
querem tudo para ontem e tendem a querer ver o futuro, não se fixam no
presente. É um processo inconsciente que pode ser trabalhado quando há a
percepção de que não se está olhando, mas apenas vendo.
Não é o olhar para uma imagem que é
complexo, mas sim o olhar para sua vida, para seu interior, para tudo o que há
ao seu redor, que pode estar refletindo em suas ações diárias e levando até a prejuízos
pessoais e afetivos. Pessoas com dificuldade de olhar podem ser lesadas e
presas fáceis de manipuladores, acreditam em tudo, já que apenas veem as
situações e nem sempre as analisam com sagacidade, sabedoria, não interpretam a
sua complexidade.
Desenvolver o olhar é fundamental,
porque ele é ação, é perceber, é conviver, é observar as nuances do outro e de
si mesmo. Olhar traz transformação, compreensão, analogia com o que há ao
redor, diferenciando do ver, da visão, que não requer amadurecimento.
Para Márcia Tiburi, filósofa,
“aprender a pensar é descobrir o olhar”. Não há como fugir disso porque o olhar
desnuda as mentiras, revela as verdades, derruba as cortinas da falsidade e da
insensatez a que muitas vezes estamos imersos e somos submetidos. Portanto, se
você tem dificuldade em olhar, procure trabalhar isso por meio de imagens
simples e vá caminhando até as mais complexas.
Faça exercícios diários como
meditação, leitura de gestos, feche os olhos, ouça uma música suave, procurando
imagens que possam aguçar o seu olhar, tente esvaziar a sua mente de
pensamentos barulhentos, dedique-se à escrita, contemple a natureza, observe os
pássaros, as borboletas e até os insetos mais pequenos.
Olhe o pôr-do-sol e respire
profundamente, buscando a beleza que há no seu adormecer. À noite contemple a
lua e procure olhar para suas nuances, brilho e fases; observe seus movimentos.
Aprecie as belezas que o Universo proporciona.
Você vai perceber que o olhar depois do ver traz surpresas e definições que jamais poderíamos imaginar que existissem. Pode ter certeza de que você encontrará respostas para as quais estava procurando há muito tempo, mas o ato de ver não lhe permitiu que fosse mais além. (Lucifrance Carvalhar).
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