Geddel é hoje o maior "Mala Sem Alça" entre todos baianos! |
O sujeito falava
asneiras demais, supondo que os ouvidos alheios deviam estar sempre disponíveis
para a suprema tortura de escutar o que não lhes diz respeito algum. Era um
verdadeiro boquirroto, falando sem parar de si mesmo e contando vantagens
exageradas sobre as conquistas que somente ele enxergava. Punha-se ao lado do
primeiro incauto que lhe cruzasse o caminho e, sem lhe dar a chance sequer de
respirar, já ia despejando uma carreta de bafejos com que a sorte o agraciou: o
seu carro era o mais possante, a sua casa a mais confortável, o seu emprego o
mais bem remunerado, a sua mulher a mais bonita, os seus filhos os mais
inteligentes... Como num best-seller americano, nada na sua vida era pequeno ou
comum, nada dava errado nem saía dos trilhos. E quando se ia ver mais a fundo,
era tudo mero devaneio de uma mente totalmente distanciada da realidade. Farinha
azeda de verdade, mala sem alça, alma sebosa que nunca soube edificar nada que
prestasse. O que fez com rara competência foi somente mentir, mentir muito,
mentir descaradamente, dando a quem não o conhecesse de perto a impressão de
que chegava até a acreditar nas muitas inverdades que ele próprio inventava.
Com o tempo, passou a servir de chacota, apontado em meio a sussurros quando
desfilava de nariz empinado, sem dar um bom dia a ninguém, ajeitando os cabelos
grudados com goma. De metido tornou-se ridículo, de boçal transformou-se numa
figura quase folclórica, símbolo da petulância que não leva a lugar nenhum,
exemplo da arrogância que evidencia pequenez de espírito. Findou-se tristemente,
solitário e esquecido. Nasceu e viveu toda a existência na mesma ruazinha, mas
jamais praticou um ato nobre, nunca ajudou desinteressadamente a ninguém,
sempre quis tirar vantagem de tudo e de todos. Saiu de cena sem fazer falta.
Quando o seu caixão ia chegando perto do cemitério, um bêbado disse para alguém
que lamentava o desaparecimento do sujeito: “Guarde sua pena; pra que gastar
vela boa com defunto ruim?”.
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