Prefeitura Itabuna

Câmara

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12 de janeiro de 2018

O GLAMOUR DE SER APENAS UM MOÇO DO INTERIOR

Ser apenas uma pessoa do interior, é ir muito além de ser humano!
Digo e não peço segredo, sabem os que me conhecem: tenho orgulho de ser itabunense, de ter sido feito gente no bairro Conceição, às margens do rio Cachoeira, contemplando os imensos cacauais das fazendas do Ribeirão dos Cachorros, onde meu saudoso avô Jacinto possuía uma roça de tamanho médio. Nos muitos invernos que a minha infância testemunhou – “mês de junho, com chuva e céu nublado”, como eu disse num artigo – aprendi a admirar a força da natureza, que estrondava em trovões e iluminava em relâmpagos faiscantes, espetáculo precioso que nunca mais se apagou das minhas retinas fatigadas. Quem se cria no interior leva consigo, vida afora, as marcas benéficas do aprendizado que somente as cidades pequenas são capazes de proporcionar. Há todo um conjunto de circunstâncias que, somadas umas às outras, constituem um riquíssimo mosaico capaz de compor, em grande parte, a personalidade dos que ali dão os primeiros passos da sua existência. A capital oferecia aos da minha época a tecnologia, a chance de progredir, a sedução do que havia de mais moderno e avançado; mas somente as ruas da cidade natal, que acolhem os nossos passos indecisos e vacilantes de criança, conseguem nos dar o prumo necessário para seguir em frente nos muitos caminhos que a vida há de nos oferecer. Saímos da nossa terra, mas ela não sai de nós, segue grudada em nossa alma como uma tatuagem inapagável. O grande e saudoso Belchior, cantou que era “apenas um rapaz latino-americano, sem dinheiro no bolso, sem parentes importantes e vindo do interior”. Esse também fui eu. Quando cheguei a Salvador, mal entrado na adolescência, as largas e extensas avenidas punham-se diante de mim como uma pista olímpica a ser vencida. Os garotos com as suas gírias, as meninas com os seus salamaleques, os professores com a sua pouca intimidade, tão diferentes das “tias” que eu deixara para trás, o barulho, a correria, a pressa e a pressão – tudo me parecia demasiadamente grande e dificultoso. No silêncio dos meus temores e das minhas angústias, aprendi a sobreviver. Mas jamais deixei de ser quem eu era de verdade, somente um menino espantado e boquiaberto diante do vasto mundo que precisava ser compreendido e explorado.

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