Ellen Cardosom ao perdoar seu agressor, pode está deixando de ser "Moranguinho", para se oficializar como "Saco de Pancada"! |
Em dezembro passado, o Brasil
presenciou a história de "amor" do cantor Naldo e a bailarina,
conhecida como Mulher Moranguinho. Segundo narrou a mulher, o relacionamento
amoroso de sete anos foi de extrema violência doméstica. O funkeiro acabou
respondendo por porte ilegal de arma de fogo e agressão. Foi preso e solto
mediante o pagamento de fiança. A prefeitura do Rio de Janeiro cancelou a
participação do cantor no Réveillon de Copacabana e a TV Record rescindiu o
contrato em que ele participaria de um programa televisivo de grande audiência.
A mulher ficou em dor emocional intensa, mesmo não sendo esse o primeiro ataque
sofrido, buscando apoio junto a familiares, amigos e amigas. No dia dos fatos
que originaram a busca por ajuda do poder público, a mulher foi agredida com
garrafa, socos, chutes e puxões de cabelo, por ciúme. O cume da briga aconteceu
quando o homem pegou o celular da esposa, enxergando situações que somente ele
podia perceber. A mulher é proprietária de uma loja de roupas que anuncia
também via Instagram. Em razão do comentário de um homem em uma das fotos na
referida rede social, a violência foi a única solução encontrada para
"ensinar" a amada. Ele apanhou o celular da esposa e quebrou,
quebrando, ainda, o box do banheiro. Afinal de contas, se normalmente sempre tudo
se resolvia com tapas, xingamentos, beliscões, quebra-quebra e empurrões,
porque agora seria diferente? Quando a mulher resolve buscar ajuda, a sociedade
toma conhecimento da real situação do casal. Acontece o chororô do agressor. No
caso narrado, o cantor grava um vídeo tentando explicar o inexplicável. Chora,
pede perdão, tenta se explicar, e se "queima" ainda mais. Em suas
palavras, ele pede perdão a mulher. Jura que ama muito a esposa violentada por
ele. Diz que está buscando se cuidar com profissionais. Mas não há vídeo ou
carta que explique as agressões às mulheres. Tem sido muito comum, também, em
caso de assédio sexual escancarado publicamente, explicações do agressor, como
se houvesse elucidação suficiente para o episódio. No caso citado no início
deste artigo, a esposa, mesmo após as lesões corporais que marcarão profundamente
o seu corpo e alma, resolve voltar a viver maritalmente com o homem. Narrou que
ele é para ela um filho, que precisa de tratamento. Para a vítima, apenas ela
poderá "curá-lo", se sente responsável pelas atitudes dele. Em muitos
momentos, as vítimas se culpam pela prisão do agressor. E em outros, eles a
culpam pelas agressões. O ciclo da violência doméstica fica evidente. A tensão
como primeiro estágio, onde as partes não conseguem manter contato. A explosão
vem logo em seguida, quando os empurrões e lesões corporais ficam frequentes.
Os homicídios acontecem na fase explosiva. A lua de mel fecha o ciclo, com
perdões e promessas de jamais repetir os abusos. Este é um drama na vida de
muitas mulheres. E estas não podem aceitar tamanho flagelo humanitário. Homens
que espancam suas parceiras, devem compreender que acabou a ideologia
patriarcal, que estruturava as relações sociais no Brasil Colônia e que,
infelizmente, dava aos homens poder irrestrito sobre as mulheres. Isso
disseminou entre os homens um sentimento de posse sobre o corpo feminino,
atrelada à ideia de honra masculina. Cabia aos homens disciplinar e controlar
os corpos femininos para garantir a ordem. A legislação do período colonial que
permaneceu até o século XIX, permitia que o marido assassinasse a mulher em
caso de adultério. Era facultado, aos pais e maridos, o enclausuramento forçado
das esposas e filhas, e o recolhimento em ordens religiosas e sanatórios.
Nascia assim no Brasil o lar como um lugar privilegiado para a prática da
violência contra a mulher e seus filhos. E, infelizmente, em muitos lares,
ainda vivemos no período do Brasil colonial.
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