Operação Lava Jato: Abraço de afogado envolve Lula |
Um pesquisador colhendo dados
para sua pesquisa na rodoviária de Itabuna, perguntava as pessoas que por ali
passavam em que tipo de sociedade elas gostariam de viver. Todos responderam
unânimes que gostariam de viver em uma sociedade sem corrupção. Refletir sobre
essa resposta buscando verificar se isso é possível na atual conjuntura em que
vivemos representa algo necessário e urgente. Hoje no Brasil as relações entre
política e empresas demonstram que esse ideal de viver em uma sociedade sem
corrupção pode se tornar cada vez mais um ideal sem ressonância para a vida
prática do processo coletivo. O crescente descompasso entre a esfera pública e
a esfera privada demonstrando que nessas relações não podemos cair nas tiranias
da intimidade. As empresas que de um lado representam o lucro privado e os
interesses individuais se contrapõem a política que deve representar os
interesses de uma sociedade. O fato é que essa relação entre política e
empresas pode se tornar em pesadelo quando não se tem o devido discernimento
entre uma coisa e outra, e para que ambas possam caminhar juntas sem se
hostilizarem é necessário que o homem público ressurja e que o interesse
particular das empresas não domine a esfera pública. Nesse sentido, a pergunta
do pesquisador na rodoviária nos mostra uma evidencia nas respostas dos
entrevistados, viver em uma sociedade sem corrupção urge como clamor de uma
sociedade que almeja experimentar relações mais justas e equitativa e isso
passa pela vida política, por uma esfera pública de forma irremediável. É nesse
particular aspecto que esbarra-se o problema de uma sociedade viver sem a chaga
da corrupção, pois, as empresas guiadas pela lógica do capital é claro são
guiadas para viverem mergulhadas em si mesmas, em seus lucros onde o destino de
outros lhes é indiferente, nelas não há espaço para que predomine um sentido de
sociedade em suas ações e decisões e sim um sentido de mercado. Mas a esfera
pública diferentemente disso existe por um sentido outro, um sentido maior e
tem concordância com a existência de um sentido de sociedade, de não se colocar
como estranho ao destino do outro, há o predomínio dos interesses coletivos de
uma política maior e mais ampla que deve levar em conta o destino dos demais.
Chegamos assim a um ponto fundamental nesse clamor implícito nas respostas dos
passageiros da Rodoviária de Itabuna por uma sociedade sem corrupção que
envolve governantes, e administradores que precisam gerir a vida pública sem as
mazelas da corrupção, ou seja, bastava apenas que nossos representantes e
administradores públicos governassem levando em conta um sentido de sociedade
em suas ações, decisões e planejamentos. Bastava apenas que os papeis públicos
legitimados a juízes, políticos, presidentes, governadores e prefeitos
adquirissem um toque a mais de coisa pública de um sentido mais profundo de
sociedade na condução de seus pleitos que lhes foram confiados pelo processo
democrático. Uma sociedade sem corrupção se consolida, portanto, a partir de
uma compreensão, de um entendimento a cerca disso, e que para muitos
representantes públicos isso parece não ter nenhum significado. Na vida pública
pessoas mergulhadas em si mesmas, ou seja, governantes mergulhados em si mesmos
impedem que a sociedade se consolide enquanto princípio que possa se contrapor
aos interesses particulares. A sociedade ideal é a sociedade sem corrupção, mas
para isso acontecer aqueles que almejam a vida pública para gerir o bem
coletivo precisa levar consigo algum sentido de sociedade, algum interesse em
relação ao destino de todos os seus demais concidadãos. É, portanto resgatando
esse sentido nas novas gerações que poderemos caminhar rumo a uma sociedade
menos corrupta e menos particularista. Neste sentido justiça e direitos por ser
a base que buscou legitimar as sociedades democráticas modernas devem continuar
a prevalecer como princípio e bem maior para seus governantes. Exercer e poder
praticar esses valores democráticos ajuda em muito na hora de buscar realizar o
ideal tão sonhado e desejado por todos de viver em uma sociedade sem corrupção.
Mas para que isso possa prevalecer de fato na prática, a credibilidade nas
instituições precisa voltar a existir no pensamento da coletividade,
credibilidade esta, aliás, que deve servir para uma finalidade semelhante capaz
de oferecer ao homem e a sociedade os meios para que justiça e direito possam
se tornar os principais meios de sociabilidade em bases impessoais. Nesses
termos, cabe uma pergunta: Como criar uma sociedade de sociabilidade tão
intensa? A resposta para isso passa, portanto, na necessidade de se resgatar um
sentido de sociedade que foi ficando para trás na medida em que as relações
entre público e privado foram perdendo seus pontos de diferenciação.
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