Muito menores de idade são maiores e mais perigosos que adultos |
Facções criminosas de âmbito nacional
estão em guerra. Trata-se de uma guerra de organizações fora da lei entre si e
do Estado contra esses grupos. Os resultados são conhecidos e as causas também,
dentro e fora dos estabelecimentos prisionais. A resposta estatal está sendo
amplamente divulgada: mutirões processuais, transferências de presos, novos
presídios, Força Nacional e, agora, as Forças Armadas. O investimento será
bilionário. Tudo porque não foi feito o que a legislação determina há muito
tempo: ressocialização. Ocorre que essa guerra entre facções criminosas chegou
às unidades onde se encontram os adolescentes e jovens adultos que cumprem
internação provisória, internação permanente e semiliberdade pela prática de
atos infracionais. Isso significa que o Estado, também nesse setor, não fez o
que a legislação determina: socioeducação. Os jovens socioeducandos
comportam-se como presidiários, porque assim são tratados. As unidades de
internação são verdadeiras cadeias. Guardadas as devidas proporções, o sistema
socioeducativo é ainda pior que o sistema prisional. Não há mão de obra estatal
suficiente e qualificada, além de serem muito mal remunerados e com vínculo
precário. Falta o básico e o que existe é improvisado. A despeito de tal
realidade não ter sido noticiada e, pior, a reação estatal que busca corrigir
os erros do passado na condução do sistema penitenciário não contempla a prevenção
e não se estende ao sistema socioeducativo. Desse modo, ao invés de educar
pessoas em condição peculiar de desenvolvimento para serem cidadãos produtivos,
as unidades de internação e semiliberdade continuarão a fornecer jovens
filiados a facções criminosas e plenamente formados para o mundo do crime. Apesar
de serem áreas conceitualmente distintas, ressocialização e socioeducação, a
cruel realidade hoje as nivela. Tudo o que existe de errado nas prisões está
sendo replicado nas unidades de internação e de semiliberdade de adolescentes e
jovens adultos, com o agravante de ser o sistema socioeducativo muito mais
carente de recursos materiais e humanos e ter o diferencial de demandar forte
investimento em educação formadora. Seria realmente oportuno que o esforço
bilionário estatal não esquecesse do sistema socioeducativo e providenciasse
melhores condições para as unidades de internação e de semiliberdade, assim
como para os setores responsáveis pela liberdade assistida e prestação de
serviços à comunidade.
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