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| Até o Estado parece conspirar contra negros e pobres no Brasil |
Em muitos países, ser negro e ser abordado por um policial pode resultar em violência, como se a cor da pele fosse agravante. No Brasil, no ano passado, a polícia do Rio de Janeiro, cidade que sediará as Olimpíadas, matou 644 pessoas, sendo 497 negros (77,2%). As mortes de dois homens negros, ou afrodescendentes como preconiza o politicamente correto, por policiais brancos acendeu um estopim de protestos pelos Estados Unidos que culminou numa mortandade em Dallas: cinco policiais foram mortos por atiradores, tragédia que comoveu o país. Os fatos mostram que mesmo tendo eleito um presidente negro por duas vezes, o conflito racial nos EUA está longe de um final feliz. Quando matam negros no Brasil, não há protestos e poucos casos alcançam repercussão na mídia; nenhum governante presta condolências. Recentemente, houve um episódio chocante no Rio: um adolescente negro foi morto porque o saco de pipocas que ele tinha nas mãos foi confundido com drogas. Os policiais foram afastados, mas ninguém foi para as ruas reivindicando vingança. A população brasileira é condescendente? Acredito que não, mas há certa insensibilidade diante da miséria e da violência (68% dos mortos de forma violenta são negros) e da sensação de impunidade, e esta decorre não da ausência de leis. Levantamento feito há alguns anos mostrou que há mais de 180 mil leis em vigor no Brasil, muitas defasadas, a maioria não aplicada. Em suma, combate-se o sintoma não a causa: diante do aumento do número de acidentes, pune-se o motorista com novas leis ao invés de consertar as estradas. Tanto nos Estados Unidos (menos lá) quanto aqui os negros são a parcela mais pobre da população. Recrudescemos na repressão, mas não oferecemos oportunidade de ascensão social, melhores condições de vida. Esse é o desafio do Brasil de hoje, do político de hoje que pensa socialmente. Na Câmara Federal, apenas 22 deputados se declararam negros num universo de 513 parlamentares. É pouco, mas sinaliza que temos um caminho a percorrer e ele aponta em várias direções, e isso envolve educação, oportunidade de trabalho e dignidade.

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