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5 de dezembro de 2015

RITA DE CÁSSIA ARCANJO DOS SANTOS

Drª Rita Arcanjo é referência do quanto é raro uma grande e
verdadeira amizade neste mundo desarmonioso e mercantilista
Tornou-se cada vez mais costumeiro ouvir de um e outro que não se faz mais amigo como antigamente. E com toda razão. Não só não se faz mais amigos como outrora como se tornou raridade encontrar alguém com as características de verdadeiro amigo. Tornou-se tão difícil que numa hora de precisão um bom tempo é despendido para lembrar um só nome. E ainda assim sem a certeza da acolhida tão urgente e necessária. Quais são as características de um verdadeiro amigo, alguém poderia indagar. Nada que assombre a ideia. Pelo contrário, apenas o reconhecimento do outro não apenas no instante de necessidade maior, mas em todos os momentos da existência. Em outras palavras, ter a certeza de não estar desamparado, sozinho, que pode contar com alguém. E não somente para ser auxiliado, receber apoio, mas para compartilhar o prazer do encontro, do convívio, do instante acompanhado de café com palavras. O amigo faz falta não porque esteja ausente num momento de precisão ou porque desconhece a amizade quando dele mais necessita, e sim por estar presente na recordação e no afeto e não ser encontrado no dia a dia e nos acasos da vida. O amigo, ou aquele em que se confia a amizade, vive na lembrança e não em pensamentos ocasionais, permanece no coração e não apenas como número de telefone ou nome de agenda. Por confiar, cria-se a sensação de segurança e de presença. A verdadeira amizade é bondosa e altruísta, é solidária e humilde, é compreensiva e sincera, e um amigo assim é sempre essencial na vida de qualquer um de igual pensamento. Por isso mesmo que se mostra difícil encontrar pessoas com tais características nos dias atuais, e estes tão cheios de vaidades, soberbas, egoísmos e isolamentos. Com efeito, o mundo atual é formado por pessoas que se tornam estranhas aos conhecidos e familiares, por viventes que buscam refúgio em ilhas cercadas de gente por todos os lados. As ilhas humanas demonstram bem como o ser está cada vez mais sozinho. Pessoas que evitam pessoas, que as olham com desconfiança e até arrogância, seres que se presumem capazes de tudo na sua solidão premeditada. Verdade que surpresas desagradáveis fazem evitar até pessoas mais íntimas, porém nada justifica a descrença no próximo, o isolamento como se ninguém mais merecesse confiança e a construção de uma amizade sincera. Por consequência, as ilhas proliferam separando aqueles que estão lado a lado. Ou o homem acredita no homem ou o convívio terreno ficará cada vez mais insustentável. Porque já suportou uma falsidade de quem não esperava que cometesse, muitas vezes a pessoa acaba evitando ir além de um tratamento distante e frio. Mas é preciso conhecer as pessoas, será preciso uma maior aproximação para apreciar suas virtudes, seus modos, o que as guarnecem positivamente. E de repente, naquele que nem se mostra além da sinceridade estará alguém que pode ser confiado, compartilhado, acreditado. Um amigo. A amizade não se constrói nem se sustenta com escusas intenções, e muito menos perdura com fingimentos e falsidades. Até que um possa ser enganado por algum tempo, vez que aquele de bom coração insiste em não acreditar na maldade do outro, mas quando a verdade estabelece a realidade dos fatos, então será o farsante que amargará a solidão e o desprezo, sentirá no íntimo a falta que faz não poder contar com alguém que ao menos lhe diga o quanto andou errado. A verdade é que, demonstre ou não, todo mundo deseja um amigo, e quanto mais verdadeiro melhor. Diante de uma doença, muita gente sofre pelo enfermo como se ao lado de uma pessoa amada, guardando-lhe a cabeceira, fazendo orações, providenciando o que for possível para amenizar a desesperadora situação. No meio da noite, diante de qualquer ocorrência, ao bater à porta é que se reconhece a verdadeira amizade. O bom amigo não só abre a porta como serve no que estiver ao alcance. Na ausência do amigo, somente aquele que lhe guarda carinho e afeição faz a defesa sincera e justa perante línguas ferinas. Também é amigo aquele da canção, guardado no lado esquerdo do peito. Ou o outro que chora sua dor sobre o ombro daquele que desde muito não encontrava. Amigo é pra essas coisas, diz a música. Não só para essas coisas como para muito mais, pois a verdadeira amizade possui a firmeza do diamante e o valor inestimável da própria vida.

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