Onde
já se viu tanto excesso de falta? Abundância de inexistência... Exagero de
escassez... Contraditórios? Então aí está! O novo nome do nosso país! Não pode
haver sinônimo melhor para BRASIL. Porque o Brasil nada mais é do que o excesso
de falta de caráter, a abundância de inexistência de solidariedade, o exagero
de escassez de responsabilidade. O Brasil nada mais é do que uma combinação mal
engendrada - e friamente sistematizada - de contradições. Há quem diga que 'dos
filhos deste solo és mãe gentil', mas eu digo que não é gentil e, muito menos,
mãe. Pela definição que eu conheço de MÃE, o Brasil, está mais para madrasta
vil. A minha mãe não 'tapa o sol com a peneira.' Não me daria, por exemplo, um
lugar na universidade sem ter-me dado uma bela formação básica. E mesmo há 200
anos atrás não me aboliria da escravidão se soubesse que me restaria a
liberdade apenas para morrer de fome. Porque a minha mãe não iria querer me
enganar, iludir. Ela me daria um verdadeiro Pacote que fosse efetivo na
resolução do problema, e que contivesse educação + liberdade + igualdade. Ela
sabe que de nada me adianta ter educação pela metade, ou tê-la aprisionada pela
falta de oportunidade, pela falta de escolha, acorrentada pela minha
voz-nada-ativa. A minha mãe sabe que eu só vou crescer se a minha educação
gerar liberdade e esta, por fim, igualdade. Uma segue a outra... Sem nenhuma
contradição! É disso que o Brasil precisa: mudanças estruturais,
revolucionárias, que quebrem esse sistema-esquema social montado; mudanças que
não sejam hipócritas, mudanças que transformem! A mudança que nada muda é só
mais uma contradição. Os governantes (às vezes) dão uns peixinhos, mas não
ensinam a pescar. E a educação libertadora entra aí. O povo está tão paralisado
pela ignorância que não sabe a que tem direito. Não aprendeu o que é ser
cidadão. Porém, ainda nos falta um fator fundamental para o alcance da
igualdade: nossa participação efetiva; as mudanças dentro do corpo burocrático
do Estado não modificam a estrutura. As classes média e alta - tão
confortavelmente situadas na pirâmide social - terão que fazer mais do que
reclamar (o que só serve mesmo para aliviar nossa culpa)... Mas estão elas
preparadas para isso? Eu acredito profundamente que só uma revolução
estrutural, feita de dentro pra fora e que não exclua nada nem ninguém de seus
efeitos, possa acabar com a pobreza e desigualdade no Brasil. Afinal, de que
serve um governo que não administra? E de que serve uma mãe que não afaga? E,
finalmente, de que serve um Homem que não se posiciona? Talvez o sentido de
nossa própria existência esteja ligado, justamente, a um posicionamento perante
o mundo como um todo. Sem egoísmo. Cada um por todos. Algumas perguntas, quando
autoindagadas, se tornam elucidativas. Pergunte-se: quero ser pobre no Brasil?
Filho de uma mãe gentil ou de uma madrasta vil? Ser tratado como cidadão ou
excluído? Como gente... Ou como bicho? - (Premiada pela UNESCO, Clarice Zeitel
Vianna Silva, 26, estudante que termina Faculdade de Direito da UFRJ, em julho,
concorreu com outros 50 mil estudantes universitários. Ela acaba de voltar de
Paris, onde recebeu um prêmio da Organização das Nações Unidas para a Educação,
a Ciência e a Cultura (UNESCO) por uma redação sobre 'Como vencer a pobreza e a
desigualdade.' A redação de Clarice, intitulada 'Pátria Madrasta Vil', foi
incluída num livro, com outros cem textos selecionados no concurso. A
publicação está disponível no site da Biblioteca Virtual da UNESCO. Por Paulo
Luna - valcabral.blogspot.com).
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