É possível que eleitores do futuro
prefeito de Itabuna, Claudevane Leite, tenham familiaridade com a frase
"ao vencedor as batatas", de Machado de Assis, em sua obra Quincas
Borba. É possível também que muitos já tenham ouvido a expressão "batata
quente", que se refere a alguma coisa difícil de ser encarada, por queimar
as mãos. Juntando-se as duas coisas temos uma melhor visualização do que espera
o novo prefeito, após sentar-se na cadeira que já foi, entre outros, para citar
só os mais recentes, Geraldo Simões, Fernando Gomes e o Capitão Azevedo. Aliás,
parece que a única coisa comum entre todos, além da origem humilde, é o fato de
foram eleitos quando tudo parecia sinalizar o fracasso. Fernando Gomes, Geraldo
Simões e Capitão Azevedo foram eleitos sem nunca ter sido considerado como
favoritos. Vane vai pegar batatas quentes, uma atrás da outra; e isso já começa
na hora do anúncio do secretariado. Interessa mais ao PRB e seus coligados –
ainda que a Vane possa interessar, de verdade, ser um bom prefeito – o poder,
os cargos, a dominação, a verba pública. A pressão para a distribuição do que
foi conquistado pode deixar o prefeito eleito de cabelos brancos. Distante da
impossibilidade de cumprir a maioria das promessas de campanha, o que por si só
será já um tormento, o novo prefeito precisará de pulso firme, para conter a
sanha comunista de reaparelhar a Prefeitura com os companheiros do partido e
distribuir migalhas de poder a aliados da campanha que estão sobre a carniça
como urubus. O prefeito, a partir de 2013, não terá maioria na Câmara
Municipal. Vai precisar compor com outros partidos. No plano federal, durante a
primeira gestão do governo Lula, o "compor" significou usar dinheiro
público para comprar parlamentares e partidos para votar com o governo. Vane, por
princípio, pode até ser contra isso, como disse na campanha. A questão é saber
se resistirá à pressão dos "camaradas" e de quem “é de ir mais cedo”,
com sede ao pote!. Vane dispôs-se a ser candidato. Aceitou ser "linha de
frente" na empreitada de uma “terceira via”. Graças aos erros incontáveis
de Azevedo e ao descrédito de Geraldo, logrou a vitória. Terá de saber encarar
as batatas quentes, regular a sanha dos que desejam acesso aos cofres públicos,
"negociar" com a Câmara Municipal e, ainda, administrar a cidade
dentro dos compromissos que assumiu. E prepare-se o leitor, porque é tradição dos
políticos sofrer de amnésia depois de eleito e não cumprir promessas. De todo modo
é civilizado e democrático, juntar forças sadias em torno do novo alcaide,
porque no caso de seu fracasso, o prejuízo será da cidade e de sua gente. Aliás,
seria assim de todo modo, mesmo que fosse outro o eleito. Por razões que já
expus aqui, a não ser em ambientes futuristas de tecnologias revolucionárias,
Itabuna, como cidade, está fadada ao esgotamento crônico. Há graves problemas
em setores cruciais como saúde, trânsito, infra-estrutura, assistência social,
esportes, cultura e segurança. Itabuna está asfixiada. Precisa Vane renascer a
esperança para o seu povo. O novo prefeito vai sentir isso na pele e se
conseguir superar minimamente as batatas quentes se tonará uma lenda – como nenhum
outro foi.
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