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Câmara

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1 de outubro de 2011

ATENÇÃO NA DIREÇÃO FAZ A DIFERENÇA ENTRE VIVER E MORRER

Está em operação aqui o que os psicólogos chamam de “cegueira por inatenção”. Trata-se de um viés cerebral com importante impacto social, que se materializa justamente na forma de acidentes. Ela envolve, além da atenção, a memória, a confiança, o conhecimento, a causalidade e a potencialidade. É uma leitura ao mesmo tempo divertida e instrutiva. Como não dá para desenvolver todos esses pontos no espaço relativamente limitado de uma postagem, vou me ater na questão da atenção e, em especial, a sua ligação com o trânsito. O problema não é tanto não ver o gorila, mas acreditar erroneamente que seremos sempre capazes de fazê-lo. Nós imaginamos que podemos enxergar tudo o que aparece à nossa frente, quando na verdade só temos consciência de uma pequena porção das coisas que estão em nosso campo visual. Em geral, vemos aquilo que o cérebro já espera encontrar. A contrapartida é que basta uma distração mínima para deixar de observar o que não é esperado. O efeito não se limita a macacos e pedestres. Essa ilusão faz com que, em simuladores, pilotos de jatos comerciais fiquem cegos para aviões que cruzam a pista taxiando quando eles vão aterrissar (incursões são um fenômeno relativamente raro, ainda que potencialmente fatal) e que radiologistas experimentados não vejam uma pinça esquecida no abdome do paciente (o médico, afinal, procurava por tumores, não por objetos perdidos). Um mecanismo de retroalimentação reforça ainda mais o viés: só percebemos as limitações de nossa atenção nas poucas vezes em que algo dá errado; o número bem maior de ocasiões em que falhamos mas nada de extraordinário acontece nem sequer é registrado por nosso radar mental. Com isso, não pestanejamos antes de superestimar nossa capacidade de atenção, o que frequentemente nos coloca em situações de perigo, como dirigir em velocidade superior à calculada pelos técnicos (isso mesmo, aquele número que nos parece ridiculamente pequeno que aparece nas placas) ou falando ao celular. O telefone constitui um caso à parte. Há diversos estudos experimentais e epidemiológicos mostrando que o efeito do celular sobre a direção é comparável ao do álcool. Ambos diminuem nossa capacidade de prestar atenção e, com isso, reagir em tempo hábil ao imponderável. Apesar de as gerações mais novas se gabarem de ser “multitarefa”, isso também é uma ilusão. Embora as habilidades variem de pessoa para pessoa, quanto mais atividades simultâneas o cérebro humano realiza, pior ele sai em cada uma delas. Os celulares são perigosos para motoristas. Não há o mesmo grau de desatenção quando ouvimos o rádio ou conversamos com alguém dentro do veículo. Existem artigos que mostram que essas atividades não atrapalham muito a direção. A principal diferença está na demanda social da conversação telefônica. Quando falamos com o passageiro, a exigência atencional para manter a sincronização do diálogo é bem menor. Não precisamos, por exemplo, nos preocupar em responder sempre imediatamente, porque quem está no carro acompanha o contexto da estrada e interpretará corretamente os silêncios e lacunas. É claro que, na maioria das situações, nem o uso do telefone nem o consumo de um ou dois drinques (muito antes de comprometer a capacidade de andar em linha reta, o álcool já reduz os recursos atencionais) levam a acidentes, mas isso porque dirigir é uma atividade previsível e fartamente regulada. Mesmo que você faça besteira, os outros atores (motoristas, pedestres etc.) estarão se esforçando para não atingi-lo. Mas basta que surja uma perturbação um pouco maior para que o resultado seja catastrófico. Nós fomos projetados para nos locomover a velocidades da ordem de 5 km/h e sem carregar muito mais que o peso de nossos próprios corpos. Sob essas condições, levar alguns segundos a mais para reagir a um obstáculo não muda muito as coisas. O pior cenário é um esbarrão. Mas, quando andamos a 100 km/h e sobre estruturas de mais de uma tonelada, frações de décimo de segundo podem fazer a diferença entre a vida e a morte.

5 comentários:

  1. Washington Mirande de Souza04 outubro, 2011

    Os prudentes são os que a vida capacitou por experiências a serem prudentes.Nínguem nasce sabendo aprende com o passar dos tempos... Tanto homem como mulher são iguais e aprendem na mesma escola da vida.

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  2. Wilson Barbosa04 outubro, 2011

    Primeiro gostaria de parabenizar pela qualificação profissional deste seu blog. Segundo pela preocupação e a abordagem deste tema, tão necessário. Pena que não seja tão divulgado. Sou Policial Militar e fiquei sabendo deste seu blog por acidente. De qualquer forma, parabéns.

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  3. Val Cabral, está na hora de alguém tomar uma atitude e parar com estas mortes estupidas que andam ocorrendo, cansei de ver noticiários de acidentes causados por pessoas que dirigem alcoolizados, por que na verdade quem morre são os inocentes não os motoristas que estão embriagados...
    Joselito Brito

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  4. As pessoas já estão acostumadas a agir com imprudências e as autoridades fazem vistas grossas. Até quando isso vai continuar acontecendo? Danile Fontes

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  5. Nelson Barbosa de Almeida04 outubro, 2011

    Meu camarada, o artigo é muito bom. Infelizmente, existem pessoas que ainda não se deram conta das consequências em que a imprudência e direção podem causar a terceiros, a pessoas indefesas. O blog está bom mesmo. Continue assim.

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