CONCEIÇÃO PORTELA E OS DUENDES

Desde o dia 1 de julho, os grapiúnas estão tendo oportunidade de apreciar um significativo conjunto de obras de um dos maiores pintores contemporâneos baianos: CONCEIÇÃO PORTELA. A mostra está acontecendo no Shopping Jequitibá, em Itabuna. Fazem parte da exposição 20 pinturas em óleo sobre tela, de 80 X 100 cm. A artista é um caso único nas artes plásticas da região cacaueira. Começou utilizando outras expressões artísticas quando vivia em Pernambuco, deixou a criação por um tempo, voltou com força total e hoje é considerada referência, dona de uma linguagem peculiar e sensível. Isso tudo sem recorrer a elaboradas teorias, uma vez que é uma mulher tímida, intuitiva e avessa a falar muito. Poucas vezes no sul da Bahia artistas têm realizado uma exposição com tanta importância e qualidade. Poucos pintores costumam ter maiores preocupações históricas ou críticas, e se limitam a expor um momento ou uma fase sua, muito mais fáceis de fazer (e muito menos ricos) do que uma mostra calçada nas características de uma época, como esta. Aqui se representam as crenças e superstições dos trabalhadores das fazendas de cacau, em telas realizadas ao longo de quase um ano de trabalho. Contêm uma revelação privilegiada e intimista. Por certo está longe de esgotar a arte da artista, até porque não representam sua produção principal, suas telas de cores luminosas e fauna delicada. Mas com certeza em breve este seu novo momento será conhecido, discutido e badalado. Constitui a face oculta do cacau, a magia, a lenda, o invisível, o mundo oculta da nossa história visto em primeira mão numa inventividade quase insuspeitada. Visto que em arte não existe instrumento que meça mecânica e quantitativamente a grandeza, como uma febre se mede no termômetro, certas simplificações do tipo “o mais isso ou aquilo” são meras frases de efeito. Ainda assim, em alguns casos, há tal firmeza, tal unanimidade no consenso, que é difícil não tomar a sentença ao pé da letra. É o que tem ocorrido com CONCEIÇÃO PORTELA. Desde que expos pela primeira vez cerca-a uma admiração entusiasmada e permanente. Jornalistas, grupos e ideologias estéticas que dificilmente se entendem coincidem em reconhecer e aplaudir a sua obra singular. Pois em CONCEIÇÃO PORTELA se reunem certas alegorias raras no contexto da arte moderna grapiúna. Graças a especificidades de sua personalidade e trajetória, a artista pôde inventar uma linguagem própria, no mesmo caminho dos grandes Di Cavalcanti, Tarsila do Amaral, Volpi e Portinari. Sua relação profundamente artesanal com a pintura e o exercício da arte como ofício, levam-na a um dever a ser cumprido sem arrebatamentos nem dramas. Ela faz o que sabe fazer, cumprindo sua tarefa, transformando sonhos em cor, com uma riqueza extraordinária. Sua obra é imensamente sedutora, de uma sedução cristalina e candente, acolhedora, voltada, sem nenhum complexo de culpa, para a gratificação mais pura dos sentidos. Instiga e excita o espírito. A pintura de CONCEIÇÃO PORTELA é bela, definitiva, permanente. (Antonio Nahud Júnior é escritor e jornalista. Publicou oito livros).