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Câmara

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28 de abril de 2011

A CONTRADIÇÃO DO BAR DIANTE DOS ALCÓOLICOS ANÔNIMOS

Tornou-se intolerante em Itabuna, os ruidosos equipamentos de som dos bares e dos veículos estacionados com o porta malas aberto e enorme caixa com alto falantes. A disputa entre os mal educados beira a insanidade, uma mixagem que ninguém consegue individualizar o que é tocado. Meu amigo Clodoaldo Sales participava na noite de quinta-feira, de uma reunião dos alcoólicos anônimos – AA, que homenageava membro de sua família, que completava dois anos sem beber álcool, longo período de sobriedade. Do outro lado da rua, um bar com música ao vivo, mesas com muita bebida e casais dançando, comemorava noite de boas vendas e, possivelmente, de lamentos por não poder contar com a demanda confinada no grupo dos alcoólicos. Os alcoólicos em fase de recuperação vão para as reuniões partilhar emocionadamente suas experiências de vida, com relatos de perdas de bens, familiares, amores, autoestima, com voz embargada e que exige muita concentração para coordenar as ideias. Ali são renovados compromissos de evitar o primeiro gole e a consequente recomendação de não frequentar ambientes em que estejam vulneráveis às tentações do alcoolismo. No bar, a altura do som vai aumentando em razão direta com o grau de embriaguez dos frequentadores e invade a reunião dos sóbrios, que não se intimidam, mas sentem flagrante desconforto. É como se um empresário inescrupuloso resolvesse montar uma tabacaria em frente a hospital de tratamento de câncer. Os bravos anônimos lembram aos presentes que o álcool é válvula de escape que não resolve os problemas de ninguém; enquanto isso, no bar a música repete o refrão: “eu vou beber pra resolver meus probrema... Bebe, negão!” Os sóbrios recomendam evitar os chamados gatilhos, condições favoráveis ao uso do álcool; no bar, Zeca Pagodinho, ícone dos cervejeiros, canta: “se quiser beber eu bebo, se quiser fumar eu fumo...” As portas do ambiente da sobriedade, que devem permanecer abertas à espera do alcoólico que ainda sofre precisando de ajuda, são fechadas para que não entre o som do gatilho, com os decibéis da insensatez.

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