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Câmara

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9 de março de 2011

QUEM TEM MEDO DE CRÍTICAS?

É oportuno abordar neste espaço uma verdade quase inquestionável: os artistas brasileiros não estão preparados para ler críticas, sejam elas construtivas ou não. Eu poderia citar inúmeros exemplos disso, como é o caso recente de Arnaldo Jabor, que enlouqueceu pelos ataques que o seu filme “A Suprema Felicidade” recebeu, ou até mesmo chegar mais perto, bem perto, e contar alguns casos relacionados a artistas grapiúnas que mostraram sua raiva e rancor por causa de uma crítica negativa. Mas deixa pra lá, melhor generalizar. Afinal de contas, defendo a tese de que todo mundo deve se manifestar da maneira que bem entender, desde que dentro dos limites da civilidade. Infelizmente, os inacreditáveis argumentos ofensivos e indignados em relação às críticas ainda são utilizados por muita gente, principalmente por quem está começando a trilhar profissionalmente os rochosos caminhos da carreira artística. Porque os artistas mais experientes e calejados usam outro artifício para rebater a crítica, que é o de se colocar em uma posição distanciada, como pouco se importasse com os comentários em relação a cada CD, DVD, livro ou o cacete a quatro que porventura venha a lançar. É a estratégia mais inteligente, mais madura. Minha criação literária já foi criticada negativamente inúmeras vezes – geralmente oralmente e às escondidas -, e eu nunca procurei rebatê-las, continuando a escrever da melhor maneira que posso. Não sofri com tais comentários, não arranquei nenhum fio de cabelo. Com o tempo, aprendi a sentir o odor desagradável da inveja. Uma crítica honesta é bem escrita, tem conteúdo, força, provoca reflexões, e acima de tudo leva uma assinatura. Hoje em dia, um dos meus deleites infantis é enviar via redes sociais notas sobre a minha produção cultural para os invejosos de plantão. Sei que eles ficam tiriricas. É uma bobagem divertida, sem grandes arranhões. É como um puxão de orelhas de alguém experiente, dizendo: “a inveja é a prova cabal da mediocridade”. Afinal, quem não é crítico profissional e não sente inveja, fica feliz com a criação do seu conhecido, escreve, deseja sucesso, divulga. Tem uma artista de Itabuna que eu admiro demais, Zélia Possidônio, pois ela sempre responde à minha publicidade cultural com uma ou duas frases gentis. Acho tão elegante. Mas voltando ao ponto central desta crônica: a maioria dos nossos artistas tem uma necessidade quase fisiológica de ser alvo de um “baba-ovismo” que beira o coronelismo. Talvez o convívio com adoradores provincianos derreta a capacidade de discernimento, lucidez e bom senso de certos escritores, músicos, artistas plásticos etc. Para muitos deles, “liberdade de expressão” é apenas uma frase de pára-choque de caminhão. Nem vou entrar no mérito de que assistir a certos shows ou ler certos livros é um suplício similar a ter um dente extraído sem anestesia. O fato é que muitos artistas estão mal-acostumados com o tratamento benevolente por parte da imprensa. Conheço gente incapaz de tecer/escrever sinceramente críticas negativas a respeito de um colega, pois isso faria com que eles ficassem mal na fita, como se tal situação fosse lá grande coisa a se preservar. Ou seja, o cara sacrifica sua opinião honesta em troca de algo subjetivo. É um caso super comum: os cadernos culturais botam no céu artistas limitadíssimos só para não comprarem uma briga; os blogues publicam cada coisa vergonhosa somente pelo troca-troca, tipo “tô publicando você, dando apoio, mais adiante será a sua vez”, e assim caminha a humanidade tupiniquim. Sei que minha franqueza crítica choca muita gente. E eu me orgulho disso! Fico contente também quando dezenas de textos de autores novos (ou não) chegam às minhas mãos com pedidos de “crítica sincera”. Tal reconhecimento não tem preço. Geralmente agradeço pelo material enviado e peço desculpas por não escrever nada a respeito, alegando que não sou crítico profissional, o que é real. Entretanto, jamais elogiaria alguém só para não ficar com fama de vilão, tampouco ridicularizaria uma obra bacana porque o autor é um canalha (por exemplo, Osmundinho Teixeira, o cabra é uma peste de tão ruim, mas um excelente escultor). Cada coisa no seu lugar. Toda pessoa pública tem que estar preparado para receber críticas, sejam elas construtivas ou não. Eu mesmo recebo certas mensagens no meu blog com um espírito de galhofa e bom humor, justamente porque sei que troca de opiniões é algo bastante salutar e, na maioria das vezes, bastante divertida. Agora, o artista inteligente tem que ter a capacidade de tirar lições das críticas que ouve/lê e sabe ignorar aquilo que lhe parece sem conteúdo. Alguém aí já ouviu falar que o Andrea Boccelli ou o Pedro Almodóvar resolveram espinafrar algum crítico que não tenha gostado de alguns de seus respectivos trabalhos? Não, né? Quem se aventura pela carreira artística tem que entender que estar sujeito às críticas é algo inerente à profissão. A síndrome Caetano Veloso é nefasta, patética mesmo. Quem não concorda com isso deve mudar de profissão urgentemente. (Antonio Nahud Júnior - www.ofalcaomaltes.blogspot.com).

2 comentários:

  1. Bela pergunta.
    Melhor se for dirigida ao Aldo Bastos, que anda com dor de cotovelo e xingando quem merece respeito e é digno de estar onde se encontra!!!!
    Haroldo Fontes

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  2. Grande Júnior...
    ESTAMOS AQUI TORCENDO POR VC.
    Carlinhos

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