Prefeitura Itabuna

Câmara

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22 de julho de 2010

ITABUNA: CEM ANOS, SEM ALMA

FATOS POSITIVOS, FATOS NEGATIVOS - Lá pelo ano de 1985, no início do Governo Ubaldo Dantas, em palestra inicial de um Seminário promovido pela Prefeitura, falei sobre a Região e, focando Itabuna, fui categórico ao mostrar a necessidade de se dar (descobrir) uma alma para Itabuna. Wally Lima, Ottoni e Telmo – homens das letras – fizeram, pelos jornais, referências à minha fala. Após bodas de prata daquele encontro na UESC, volto ao tema. É certo que a modernidade, exigências do mercado, de busca da praticidade, adubos de esperança chegaram aos balcões de Itabuna nas últimas décadas, dando adeus a muitas das lembranças dos coronéis. De POSITIVO me lembro sem esforço das três tevês, dando tempo e espaço às notícias e ações da Região do Cacau; o Shopping, lugar obrigatório, hoje, até de fatia da classe baixa; duas Faculdades e meia dúzia de cursos à distância (EAD) dando chances de fácil acesso ao diploma superior; um restaurante popular de alimentação equilibrada, solução vital de gente enfileirada, empregada ou à cata; duas construtoras de grande capital a pleno vapor, parindo apartamentos destinados a classe média para uso próprio ou como aplicação; programas habitacionais de baixo custo e de crédito fácil, reduzindo um déficit de cinco mil unidades daqueles sem teto; as importantes indústrias Nestlé e Trifil, além da Rota absorvedoras de mão de obra; dois elegantes hipermercados no território de Ilhéus, felizes por serem reféns acotovelados a Itabuna, além da expansão demorada e merecida do Itão. Mas, é certo também que nessas últimas décadas, fatos NEGATIVOS incontestáveis, se acumularam de preocupação sem solução, de fuga, de quebra do ânimo de risco de morte (imitação de grandes centros), de descrédito e esgotamento de oportunidades aqui se instalaram (na Região e na Capital do Cacau). Esses fatos, em conjunto entristecem e muito. Eles são a maioria, pesando mais o prato do condenável da balança, do injusto. Na bica corrida do Centenário de Itabuna, ao longo da linha do tempo, assistimos de NEGATIVO: 1. Um aparente paradoxo, pois de um lado um mercado carente de mão de obra e de outro lado os desempregados. A chance de encontrar trabalho na cidade é pequena até mesmo nos setores Comércio e Serviços. A economia, há tempos, está parada. A mão de obra não atende às exigências de qualificação, e o empregador teme treiná-la e perdê-la em seguida. Aqueles do êxodo rural e das mãos vazias e quebradas cidades pequenas e vizinhas, felizes com a Bolsa Família não desejam trabalho braçal variado, na cidade. Dela querem a luz, a comodidade, a fantasia, deixando as fazendas sem pessoal na colheita do cacau e do café, tentativas de parcerias nem sempre dão certo. Aqueles saídos das Faculdades, com exceção dos enfermeiros, parte dos psicólogos e educadores, poucos são absorvidos por aqui; 2. O mau cheiro do Cachoeira e do Lava Pés, trazido pela ausência de chuva, se repete sem solução a cada ano, para maldição da vizinhança; 3. O aumento veloz dos veículos a motor, traz mais buzinas, mas barulho, mais colisões e nervosos engarrafamentos. Estacionar é um drama e sem a Zona Azul é um inferno. Itabuna não se viu rasgada por novas ruas, conquanto seu centro comercial absorveu ruas residenciais; 4. Há falta de água em muitos locais, em milhares de casas. A barragem em Itapé é devaneio. Perenizar as águas do Cachoeira é ilusão antiga. Não há ações concretas; 5. O fechamento de agencias de cacau (exemplifico com Barreto de Araújo, Correia Ribeiro, Comercial Grapiúna, Dantas Heiner) e a redução de negócios (Grupo Chaves e Cargil); 6. A Vassoura que promoveu a derrocada da Região e de Itabuna, deixando colapsada e sem alternativas a cidade, na década de 90, uma pena! Não varreu nem o individualismo nem o conformismo; 7. As ruas e avenidas esburacadas, asfalto estragado pelos veículos pesados e pela água das esporádicas chuvas torrenciais. A cidade em mais de 50% de suas vias sem qualquer pavimentação. 8. Uma Avenida Cinquentenário, valorizada, porém encardida, envelhecida, prédios mal concebidos e desbotados, fiação competidora, envergonhando visitantes; 9. Os abusos da EMASA, concepção “nacionalista” desviada de seus objetivos; 10. As Praças esquecidas, aquelas não urbanizadas, outras abortadas ou carecas de grama e de jardins; 11. A Taxa de Retenção era festa da CEPLAC, virou imposto, que sumiu, sangria da Região e de Itabuna (a grande beneficiária) não voltaria nunca mais. O gato comeu; 12. Os camelôs no centro, no trânsito, nos passeios, abraçando tudo. Empurrados em ping-pong, desorganizados, de visual nada agradável, embora úteis em seu tipo de comércio; 13. O lixo, coleta cara e mal feita, de um produto nem sempre levado a sério pelo itabunense. Espalhado pela cachorrada ou pelos catadores com fome, está no centro e nos bairros, misturando-se aos restos de reforma e de construção; 14. Um exército de motos barulhentas, buzinas de “sai da frente”, rainhas do trânsito, ignorando os sinais,, criminosos encapuzados ou não, correios de drogas ou não, apavorantes; 15. A literatura não se renovou. Os expoentes morreram, os vivos estão calados. O tema cacau se esgotou. Nossos atores sumiram por detrás da cortina do teatro; 16. O abandonado pequeno velho aeroporto, idealizado para casas populares, desfiles e comemorações ou volta à normalidade, assiste à travessia de passantes, atalho entre dois bairros; 17. A violência desenfreada, da qual ninguém escapa, ganhou lugar e fama nos noticiários nacionais; 18. A dengue em vindas periódicas apela para Postos desaparelhados e combate por vezes tardios e insuficientes; 19. O Parque da Cidade prometido, nunca foi visto pelas famílias; 20. O Centro de Convenções e o Teatro inacabados não tiveram importância reconhecida e continuidade pelo Governo atual que lhes deu às costas e a tudo que se refere a Itabuna; 21. Os 98% da população de Itabuna, residindo no urbano, pressionando por serviços (água, energia, esgoto, pavimentação, segurança, casa, etc) exigem arrecadação e investimentos vultosos; 22. No lugar dos antigos sergipanos, libaneses e sertanejos, aqui chegam os “novos engenheiros” construindo suas barracas de pau e lona preta ao longo da BR-415. É o luto de uma época de ouro, cemitério vivo em linha de uma esperança que não mais existe; 23. Os em torno de 200 candidatos a Deputado votados na sedutível Itabuna, na esmagadora maioria “de fora” da Região, por vezes mais úteis que aqueles com origem ou procedência na cidade, em fuga de compromissos, que retornam a pedir votos, sem brigar pelos interesses da cidade. 24. A Itabuna dos pedintes de todas as idades, dos meninos no colo, dos não acolhidos nos centros e hospitais; 25. A repetida e difícil prática do discurso: “é preciso a união de todos (polícia, poder público e sociedade civil). Essa é a conclusão das falas dos homens no poder, em visita aos clubes de serviço e outros espaços. Mas a síntese resulta em inofensivos passeatas objetivando remover uma montanha de problemas; 26. Os filhos, estudantes fora, diplomados não mais se encantam com a volta, após comparar e descobrir que não há mais razões além das familiares, de retorno à cidade natal. UMA ALMA PARA ITABUNA - Itabuna faz seu aniversário, 100 anos, porém não possui ainda uma alma. Que seja atrativa, calorosa, sedutora, motivo de orgulho não passageiro, mas sustentável, referência e símbolo incorporado pelos habitantes, atravessando gerações, perpassando classes sociais, fortalecendo um traço de união, de identidade, de itabunidade. Alguns apontam a Jaca. Ora, essa é mais comum nas roças, presente em toda a Região. Servia de brincadeira com os ilheenses. Outros me falam da Catedral de São José, mas as religiões se dividem em Itabuna. Apareceram outros templos tão imponentes. Muitos me dizem ser o Rio Cachoeira o catalisador e a expressão da alma itabunense. O Cachoeira, cantado pelos poetas, por que ali meninos brincavam em suas margens, as lavadeiras retiravam seu ganho, os pescadores extraíam seu ganho e seu alimento. Era e é tema de exposições de artistas da pintura e da fotografia. Hoje, esquálido e mal cheiroso, o Cachoeira mostra suas vísceras na seca que não existia: pedra, mato, arbustos, entulho de construções. São Pedro não tem sido camarada, enquanto o homem tem sido malvado com o nosso quase símbolo. Um lhe nega a água da chuva, testemunhada pelo gás metano das baronesas. O outro lhe atira dejetos humanos às toneladas: era 85% do esgoto não tratado da cidade, hoje, com bomba estragada, outra roubada, 100% de nossos excrementos matam o nosso Rio, agravando o mau cheiro. Feio, seco, recebendo o esgoto, urina e fezes do intestino e da bexiga de 200 mil pessoas criminosamente, assistimos à morte do Rio a cada dia, e nos conformamos em pagar taxa à Prefeitura de um serviço que não nos é dado. E tantos ainda pensam que o Cachoeira nos traz a identidade grapiúna, amalgama a alma itabunense, por que há ainda crianças pobres brincando às suas margens, por que minguados pescadores não ligam pelos vermes e tóxicos, também inocentes poetas, professores, artistas mentalizam águas caudalosas e límpidas fantasiando o Cachoeira. Se alma foi, não se assassina dessa maneira covarde uma alma. O Cachoeira está sendo sufocado em vida por tudo o que não presta, antes mesmo da morte da cacauicultura. Se o individualismo das pessoas e das instituições se permite o apunhalar do indefeso Cachoeira, o conformismo, braços cruzados, assiste sem revolta, sua morte. Pela enorme ingratidão, o Rio se manifesta com seus gases e, envergonhado se recusa ser a alma de Itabuna, até mesmo seu símbolo agonizante, seu grito são os gases. Bom seria que no Centenário, a reflexão, a consciência despertasse em busca de UMA ALMA PARA ITABUNA. (Selem Rachid Asmar é doutor pela Universidade de Paris e Diretor–Presidente da Selem Sondagem de Opinião).

3 comentários:

  1. A cidade carece de um Centro de Eventos, com auditórios dotados de ar refrigerado, local para feiras, com estacionamento e espaço para festas, seja de formatura ou mesmo espetáculos!!

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  2. Ninguém mais fala no Centro de Convenções, onde já foi investido dinheiro público, mas que o atual Governo do Estado “colocou a pedra em cima”!!

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  3. Tem muita coisa mais importante do que fazer festa. Comemoração a gente faz quando se está bem, com saúde, mas a cidade em crise, com várias dificuldades, eu não vejo muita coisa para se comemorar.

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