No Natal, quando a cidade se enfeita, é preciso lembrar que governar é mais do que iluminar ruas: é cuidar de pessoas.
Há cidades que, em dezembro, se vestem de luz. Outras se contentam com a fachada. Ilhéus, eu sei bem, oscila entre as duas coisas. Capricha no que aparece, silencia no que sustenta o dia a dia de quem vive aqui. Por isso, este não é um editorial de Natal feito de frases prontas ou promessas embaladas para presente. É conversa puxada na calçada, cadeira arrastada, café passado na hora. Daquelas que não pedem licença, mas pedem atenção.
Eu
sigo acreditando em Ilhéus. E faço questão de dizer isso sempre. Acreditar, pra
mim, nunca foi fechar os olhos. É justamente o contrário. É olhar de frente,
com afeto e com cobrança. É amar a cidade real, não a cidade da propaganda
oficial. A cidade do povo que pega ônibus lotado, que estuda à noite, que sonha
alto mesmo quando insistem em baixar o teto.
Ilhéus
precisa de quem incomode. Precisa de quem faça perguntas quando muitos preferem
aplaudir. De quem lembre que política não se resume a postagem e que gestão não
se mede por iluminação festiva. Antagonizar, no meu entendimento, nunca foi
torcer contra. Sempre foi um gesto de cuidado. É dizer “dá pra ser melhor”
quando parte do poder público parece satisfeita com o mínimo bem ensaiado.
Meu
compromisso com Ilhéus vai muito além de qualquer cargo público. Ele nasce
antes da política institucional e permanece independentemente dela. O espírito
crítico sempre esteve, e sempre estará, à frente de qualquer posicionamento ou
conveniência. Sei que, muitas vezes, aqueles que recebem as críticas têm
dificuldade de acreditar ou entender isso. Talvez porque, na lógica de alguns,
criticar só faça sentido quando há dor de cotovelo ou ausência de vantagem. Mas
nunca foi sobre isso. Criticar, aqui, sempre foi sobre somar, alertar e
defender a cidade, mesmo quando isso desagrada.
Neste
Natal, este texto também é memória e compromisso. Memória de uma caminhada que
passa pela comunicação, pela política e, sobretudo, pela educação. Eu sigo
acreditando que formar pessoas é o caminho mais sólido para transformar
cidades. O que me move é ver um jovem de Ilhéus atravessando o portão da
universidade ou comemorando uma aprovação em concurso público, sabendo que
aquilo não foi milagre. Foi método, foi estudo, foi alguém dizendo: dá, sim.
Há
esperança nisso. Não aquela esperança frágil, que se apaga quando desmontam os
enfeites, mas a esperança que trabalha, cobra, forma e acompanha. A esperança
que entende que amar a terra natal é não aceitar que ela seja pequena. Ilhéus
não nasceu para viver de fachada nem para ser coadjuvante de si mesma.
Gosto
de lembrar Darcy Ribeiro quando dizia que “a crise da educação no Brasil não é
uma crise, é um projeto”. Em Ilhéus, muitas ausências também parecem
planejadas. Mas projetos se enfrentam com outros projetos. E este espaço, esta
voz e este antagonismo responsável seguem sendo parte dessa construção.
E,
sim, este é um editorial de Natal. Por isso, deixo aqui uma mensagem direta ao
povo ilheense. Que este Natal chegue com mais humanidade do que discurso. Que
encontre as famílias reunidas, mesmo quando o ano foi duro. Que traga descanso
para quem trabalhou demais, consolo para quem perdeu e coragem para quem
insiste em sonhar. Que a gente não perca a capacidade de cuidar da nossa cidade
como cuidamos da nossa casa, cobrando de quem governa, mas também fazendo a
nossa parte.
Que
este Natal sirva menos para maquiagem urbana e mais para reflexão coletiva.
Menos para promessas e mais para compromissos reais. E que, ao virar o ano,
Ilhéus encontre mais gente disposta a conversar sério sobre o seu futuro. Com
afeto, com crítica e com responsabilidade pública.
Porque, enquanto houver gente acreditando e cobrando, eu sigo dizendo: Ilhéus ainda tem jeito. E eu sigo aqui, por ela e com ela. Por Emenson Silva.

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