É muito difícil encontrar uma pessoa que nunca ouviu a frase: "Rir é o melhor remédio." O humor pode até ser entendido como meio de satisfazer a necessidade de alegria. Mas, sem dúvida, ele é uma severa disciplina de pensamento, pois é dele que surge o riso que ataca os atos e defeitos do homem. O poder da caricatura está ligado à necessidade de satisfazer uma demanda editorial que requer comentário gráfico da atualidade.
Algumas
publicações desempenharam papel ativo na vida humana e talvez o caso que pode
melhor ilustrar este fato, envolve o sanitarista Oswaldo Cruz, então diretor da Saúde Pública, que foi considerado autoritário em suas medidas, pela população
e pela imprensa, com as campanhas contra a varíola, a peste e a febre amarela.
As revistas ilustradas não o perdoaram, fustigando-o com o traço mordaz dos
chargistas.
Nosso
humor sobre a situação dos postos médicos e hospitais em nossa cidade, é uma
crítica à precariedade da saúde pública que vivenciamos atualmente em nossa
cidade. A realidade nua e crua dela está bem à vista, sob os olhares
negligentes das autoridades.
Nosso
blog, comprometido com o monitoramento e acontecimentos relacionados ao
desenvolvimento humano, não poderia se abster de permanecer postando matérias que
visam esclarecer, denunciar e levar à discussão temas historicamente ligados às
esferas de planejamento, coordenação e ação nos serviços púbicos de saúde.
É
com esse pensamento que nosso blog recorre ao humor, que busca levar para perto
do povo a crítica ao quadro crítico da nossa saúde, através do traço que
ridiculariza, que provoca o riso, sem, contudo, deixar de suscitar a reflexão.
A
gente, esporadicamente, ouve críticas e elogios sobre as charges, que ilustram
nossas postagens e o que mais ouvimos nos faz refletir sobre nosso trabalho: "como
é possível fazer humor num município como o nosso, numa hora como esta?" Às
vezes a pergunta tem o tom de elogio: "só você
mesmo, para nos fazer rir desta situação” e às
vezes tem o som irado de uma cobrança: “você não se dá conta de onde está, não?”
Assim a gente tem que escolher entre várias caras para usar: a de um herói do
distanciamento que consegue manter a razão e a graça apesar de tudo, a de bobo
necessário, a do inconsciente flagrado dando uma gargalhada no velório.
De
certa maneira, as três caras servem. O recurso do humor é um herói da
resistência, como demonstrou durante nosso regime de generais. Mesmo quando não
podia ser abertamente crítico, o humor brasileiro (principalmente o gráfico)
manteve viva uma idéia de irreverência que nos ajudou na travessia. Não se
podia dizer que o general estava nu, mas se podia fazer fiu-fiu quando ele
passava e fingir que tinha sido o vizinho.
Não
por acaso, a grande revelação do cartunismo brasileiro desta época foi o Henfil, no Pasquim. Ele fazia uma coisa paradoxal, humor fino de criança
malcriada, que diz pum na frente das visitas. Foi o melhor exemplo de humor
como travessura, que manteve o regime militar, senão alerta ao seu próprio ridículo,
pelo menos desconfiado.
Com
a abertura e a permissão para dizer tudo, o desafio para o cartunista passou a
ser o senso de medida. Mas esta deve ser uma preocupação menor, tanto para o
chargista quanto para o homem público que ele alveja. Entre o exagero e a
omissão, a charge deve sempre escolher o exagero, mesmo com o risco de magoar.
A
charge inconseqüente pode existir sem que o humor seja chamado de alienado, se
é que alguém ainda use o termo. Principalmente porque o humor nunca é
completamente apolítico, mesmo que ele tente. A comédia de costumes será sempre
um retrato de costumes marcados pela desigualdade e pelo anseio social e até a
deliberação de não ser político acaba sendo uma opção política.
E
se o humor pode existir apenas para divertir ou atrair pela sua engenhosidade
ou inteligência, não devemos deixar de fazê-lo só para não parecer que estamos
sendo cúmplices de uma desconversa. A única inconseqüência inadmissível numa
charge é não provocar riso.
Finalmente
antes que todos se virem para quem deu a gargalhada no velório e peçam
comedimento e respeito, é melhor saber que tipo de gargalhada foi. Certas
situações são tão dramáticas e tristes que só rindo. Certamente a saúde em
nosso município chegou a uma situação que permite apenas dois tipos de
comentário: palavrão ou riso.
As
duas reações comportam graduações que vão da mobilização indignada ao desespero
terminal, de um lado, e da sutil ironia à gargalhada de cair da cadeira, do
outro. A gargalhada não é sinal de desrespeito, insensibilidade, bebedeira ou
loucura, é apenas o choro com outra trilha sonora.
Rimos e choramos com os mesmos músculos, o riso, no caso, só parece uma forma mais socialmente aproveitável de indignação. O riso provoca, enquanto o choro pede piedade. E, mesmo, não daria para fazer uma exposição de humor com soluços.











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