Na cidade sulbaiana de Ilhéus, aconteceu uma tragédia que virou assunto em todas as rodas de conversa da região. O protagonista da história, um galo chamado Valderico, famoso por sua ousadia e espírito de aventura, teve um desfecho digno de tragédia shakespeariana ou, como diriam os mais sábios do lugar, “quem não conhece o próprio limite acaba sendo apresentado a ele da pior forma”.
Tudo começou quando Valderico
decidiu que ser apenas um galo de terreiro não era suficiente. Ele queria mais.
Inspirado pelos longos e despreocupados passeios do pato Jabes pelo lago da
fazenda, o galo passou a seguir o amigo aquático em suas jornadas molhadas. Os
dois formaram uma dupla improvável, mas inseparável. Jabes, sempre calmo,
parecia gostar da companhia; já Valderico, inquieto e cheio de energia, não
hesitava em testar suas habilidades na água, mesmo sendo, por natureza, péssimo
nadador.
Por semanas, a dupla era vista
passeando à beira do lago. O pato, elegante, deslizava sobre a água como um
barquinho; o galo, desajeitado, ficava nas margens, batendo as asas como se um
dia pudesse voar ou flutuar. “Não há limite para o que se pode alcançar”,
cacarejava o teimoso Valderico, ecoando alguma filosofia que os moradores
associavam mais a sua audácia do que a qualquer livro que ele nunca leu.
O problema é que o lago tinha suas
armadilhas, especialmente após as chuvas. Com o nível da água mais alto e as
correntezas mais fortes, Jabes parecia deslizar ainda mais rápido. E foi em uma
dessas manhãs ensolaradas, com a natureza em festa, que Valderico decidiu que
era hora de desafiar o impossível: mergulhar de vez e seguir Jabes até o centro
do lago.
Os galos do terreiro, que
acompanhavam o galo com olhares preocupados, cacarejavam em coro: “Isso vai dar
ruim!” Mas Valderico, com sua crista vermelha erguida como uma coroa de
coragem, ignorou os avisos. Ele deu um salto desengonçado e caiu na água com um
“plof” que ecoou por todo o lago. O pato Jabes, inicialmente surpreso, olhou
para trás e fez um grasnado de incentivo. Ou, quem sabe, um alerta?
A princípio, Valderico parecia
estar indo bem ou, pelo menos, não afundava tão rápido. Mas logo a realidade
bateu. As asas que o ajudavam a se exibir no terreiro eram inúteis na água. O
esforço para acompanhar Jabes era visível e, enquanto o pato deslizava com
naturalidade, Valderico afundava um pouco mais a cada batida desengonçada de
suas asas.
A tragédia não demorou a acontecer. Entre uma onda e outra, o galo desapareceu. Jabes, percebendo a ausência do amigo, voltou para as margens, grasnando em desespero. Os galos, que assistiam a cena horrorizados, cacarejaram, cacarejaram e cacarejaram. E assim, o galo que ousou demais terminou seus dias como um exemplo de que a natureza tem suas próprias regras e de que nem todo espírito aventureiro é feito para navegar. Obs. Ficção criada para estimular sua reflexão, nada mais!
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