Robério Oliveira (PSD) superou uma rejeição arraigada e, depois de uma campanha em que venceu com resultado de empate técnico, voltou a virar prefeito. As explicações para sua vitória são muitas, mas o ponto principal é: a rejeição a então prefeita Cordélia Torres (UB) e o fake news de que ela estava apoiando seu adversário Neto Guerrieri (Avante).
A rejeição de Cordélia e a mentira de que ela estava
apoiando Neto Guerrieri, foram fatores preponderantes para Robério vencer a
eleição. Ainda que não tenha conseguido manter o jeitão “paz e amor” nesta
eleição, quando mostrou os dentes pontiagudos, dobrou resistências. Seja do
eleitorado conservador, que sempre torceu o nariz para ele; seja dos jovens aficionados
por “pedrões” e “paredões”!.
Eunápolis com
Robério volta uma era de populismo que vai lembrar muito a do prefeito reeleito
de Porto Seguro, Jânio Natal (PL). Ambos fazem política em diapasão parecido:
populismo e clientelismo com pitadas de parábolas e propaganda enganosas na
hora de se comunicar. Não deve se esperar de Robério ousadia na administração.
Quando foi prefeito anteriormente, não deixou quaisquer marcas neste sentido. A
cartilha do prefeito é outra, mais próxima da política do “pão e circo”!.
A principal crítica que Robério fez a Cordélia na
campanha foi ter “optado pelas obras, esquecendo as pessoas”, as quais, por
isso, seriam a prioridade no seu projeto de “uma Eunápolis humana”. Já que se
elegeu, sua tarefa agora é descer do palanque e substituir a propaganda pelos
fatos, as promessas pelas providências, os diagnósticos pelo tratamento.
É a hora da
verdade, em que terá de conquistar a confiança dos eunapolitanos, isto é, dos
mais de 40 mil que se recusaram a votar nele, preferindo ou o adversário, o
voto em branco, nulo ou a abstenção. E essa conversão não pode ser operada com
propaganda enganosa e falácias, em que por dever de ofício é mestre, mas com
medidas práticas, detalhadas, concretas, a favor das “pessoas” nas áreas de
educação, saúde, assistência social, esportes, cultura, para só citar as mais
precisadas.
Robério
terá pela frente pelo menos dois sérios desafios. O primeiro é o da crise
fiscal que ameaça os municípios em geral. E o segundo é provar sua competência
como administrador. Cordélia, chamada a opinar, usa sua prestação de contas
para garantir que a situação de Eunápolis é “invejável”, pois estaria com a
dívida baixa, folha sob controle e capacidade de investimentos. “Mantivemos em
todos esses 4 anos a nota máxima da avaliação dos órgãos fiscalizadores”. A
permanência desse quadro, segundo ela, vai depender da capacidade de gestão do
seu sucessor. “A casa está arrumada”, assegura, o que faz supor que não pode
haver herança maldita como desculpa.
Já Neto Guerrieri diz esperar do prefeito eleito o óbvio,
ou seja, que ele cumpra seu dever de administrar a mais bela cidade do extremo
sul da Bahia, priorizando os direitos coletivos dos cidadãos. Para isso, a
melhora e implantação de novos serviços públicos são fundamentais. E acrescenta
que “Nesse sentido, é preciso transformar as políticas públicas corretas e
exitosas não em patrimônios de governantes e partidos, mas do Município, para
que, nas mudanças de cadeiras, não sofram soluções de continuidade.
No Brasil de hoje, o mínimo que se exige de qualquer
prefeito é não roubar, não deixar roubar, não mentir. Exige-se também não
misturar política partidária e governança. E as duas com dinheiro.
Principalmente dinheiro público. E não gastar mais do que arrecada, porque é
crime. E não usar a prefeitura para financiar e aparelhar campanhas eleitorais
de parentes e aderentes. Espera-se do novo prefeito que valorize mais a
competência do que os padrinhos, que instaure a meritocracia na prefeitura.
Bem, aí já é esperar demais, mas não custa sonhar.
Que respeite a oposição, aceite críticas justas, se
responsabilize por seus erros. Que seja esperto para encampar bons projetos da
oposição, com grandeza e espírito público. Não há bom governo sem boa oposição.
Pelo menos em sociedades civilizadas. Que tenha tolerância zero com o crime nas
ruas, mesmo pequenos delitos, como vandalismo do patrimônio, e zero
intolerância para diferenças de raça, gênero, orientação sexual e crença.
Que priorize a tecnologia, estimule novas pequenas
empresas, declare guerra de morte à burocracia e possa dar a notícia
revolucionária: “Eunápolis é a cidade baiana onde se gasta menos tempo para
abrir uma empresa, e onde se abrem mais empresas”. Que diminua drasticamente as
secretarias, o funcionalismo e principalmente cargos em comissão. Que determine
a publicação on-line, em tempo real, de todas as receitas e despesas da
prefeitura.
Que
valorize os bons professores com bônus por resultados, eles merecem mais do que
ninguém. E não ceda a pressões sindicais para nivelar por baixo os bons
trabalhadores, os incompetentes e os vagabundos. Espera-se que trabalhe
incansavelmente, acima de advérbios, partidos e ideologias, com os governos
federal e estadual, para realizar o maior sonho do eunapolitano: ir e vir em
paz em sua linda cidade.
Ainda que
pesquisas apontem entre as prioridades o saneamento de bairros da periferia,
dificilmente o prefeito a assumirá. Rede de esgoto não dá voto (embora traga
saúde e vida). E com certeza recursos serão prioritariamente aplicados em áreas
de classes média e alta, formadores de opinião, pois Robério já está de olho em
2026, quando sua esposa, Cláudia Oliveira (PSD), tentará ser reeleita deputada
estadual.
Há que esperar muito pouco do prefeito Robério. Por força
da má administração, muitos municípios estão falidos. E a fatia mais gorda dos
múltiplos impostos que pagamos é devorada pela União, que costuma tratar os
municípios como o senhor da Casa Grande tratava os cães da senzala,
atirando-lhes migalhas. O prefeito, quando candidato, fez inúmeras promessas
meramente demagógicas, sem respaldo em um Plano Diretor do Município baseado em
pesquisas capazes de identificar as reais prioridades e os recursos
disponíveis. Há que pensar o município a partir de um Plano Diretor Estratégico
que considere, como prioridade, direitos e necessidades do cidadão, e não de
fazendas, rádios, trios elétricos, empreiteiras, loteamentos e condomínios.
Para tentar
evitar que o prefeito seja mordido pela mosca azul e exigir de sua
administração lisura e coragem de enfrentar as “forças ocultas”, só mesmo se
nós, cidadãos e cidadãs, assumirmos o que somos: a autoridade maior do
município, a quem nossos servidores, custeados com o nosso dinheiro — prefeito
e vereadores —, têm a obrigação de prestar contas. Mas, para isso, é preciso
que saibamos cobrar.
Todo
prefeito é assediado por empresas interessadas em arrancar-lhes dinheiro. Se
não houver transparência de um lado e mecanismos de controle do outro,
certamente serão beneficiadas, via licitações fajutas, obras de amigos e de
amigos dos amigos...
Dessa vez está tão feia a coisa que, olhando para a minha esperança tão pálida, desejo apenas que o novo prefeito não seja pior do que imagino que será. É muito pouco para uma cidade tão complicada e desigual como a nossa, muito pouco para uma cidade tão insegura e tão cheia de problemas; mas é o que temos para hoje.
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