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11 de janeiro de 2025

O QUE ESPERAR DE ROBÉRIO EM EUNÁPOLIS?

Torçamos para que estes próximos 4 anos, não transcorra apenas com “pedrões”, “paredões”, corrupção, “pães e circo”

    Robério Oliveira (PSD) superou uma rejeição arraigada e, depois de uma campanha em que venceu com resultado de empate técnico, voltou a virar prefeito. As explicações para sua vitória são muitas, mas o ponto principal é: a rejeição a então prefeita Cordélia Torres (UB) e o fake news de que ela estava apoiando seu adversário Neto Guerrieri (Avante).

    A rejeição de Cordélia e a mentira de que ela estava apoiando Neto Guerrieri, foram fatores preponderantes para Robério vencer a eleição. Ainda que não tenha conseguido manter o jeitão “paz e amor” nesta eleição, quando mostrou os dentes pontiagudos, dobrou resistências. Seja do eleitorado conservador, que sempre torceu o nariz para ele; seja dos jovens aficionados por “pedrões” e “paredões”!.

Eunápolis com Robério volta uma era de populismo que vai lembrar muito a do prefeito reeleito de Porto Seguro, Jânio Natal (PL). Ambos fazem política em diapasão parecido: populismo e clientelismo com pitadas de parábolas e propaganda enganosas na hora de se comunicar. Não deve se esperar de Robério ousadia na administração. Quando foi prefeito anteriormente, não deixou quaisquer marcas neste sentido. A cartilha do prefeito é outra, mais próxima da política do “pão e circo”!.

    A principal crítica que Robério fez a Cordélia na campanha foi ter “optado pelas obras, esquecendo as pessoas”, as quais, por isso, seriam a prioridade no seu projeto de “uma Eunápolis humana”. Já que se elegeu, sua tarefa agora é descer do palanque e substituir a propaganda pelos fatos, as promessas pelas providências, os diagnósticos pelo tratamento.

É a hora da verdade, em que terá de conquistar a confiança dos eunapolitanos, isto é, dos mais de 40 mil que se recusaram a votar nele, preferindo ou o adversário, o voto em branco, nulo ou a abstenção. E essa conversão não pode ser operada com propaganda enganosa e falácias, em que por dever de ofício é mestre, mas com medidas práticas, detalhadas, concretas, a favor das “pessoas” nas áreas de educação, saúde, assistência social, esportes, cultura, para só citar as mais precisadas.

Robério terá pela frente pelo menos dois sérios desafios. O primeiro é o da crise fiscal que ameaça os municípios em geral. E o segundo é provar sua competência como administrador. Cordélia, chamada a opinar, usa sua prestação de contas para garantir que a situação de Eunápolis é “invejável”, pois estaria com a dívida baixa, folha sob controle e capacidade de investimentos. “Mantivemos em todos esses 4 anos a nota máxima da avaliação dos órgãos fiscalizadores”. A permanência desse quadro, segundo ela, vai depender da capacidade de gestão do seu sucessor. “A casa está arrumada”, assegura, o que faz supor que não pode haver herança maldita como desculpa.

    Já Neto Guerrieri diz esperar do prefeito eleito o óbvio, ou seja, que ele cumpra seu dever de administrar a mais bela cidade do extremo sul da Bahia, priorizando os direitos coletivos dos cidadãos. Para isso, a melhora e implantação de novos serviços públicos são fundamentais. E acrescenta que “Nesse sentido, é preciso transformar as políticas públicas corretas e exitosas não em patrimônios de governantes e partidos, mas do Município, para que, nas mudanças de cadeiras, não sofram soluções de continuidade.

    No Brasil de hoje, o mínimo que se exige de qualquer prefeito é não roubar, não deixar roubar, não mentir. Exige-se também não misturar política partidária e governança. E as duas com dinheiro. Principalmente dinheiro público. E não gastar mais do que arrecada, porque é crime. E não usar a prefeitura para financiar e aparelhar campanhas eleitorais de parentes e aderentes. Espera-se do novo prefeito que valorize mais a competência do que os padrinhos, que instaure a meritocracia na prefeitura. Bem, aí já é esperar demais, mas não custa sonhar.

    Que respeite a oposição, aceite críticas justas, se responsabilize por seus erros. Que seja esperto para encampar bons projetos da oposição, com grandeza e espírito público. Não há bom governo sem boa oposição. Pelo menos em sociedades civilizadas. Que tenha tolerância zero com o crime nas ruas, mesmo pequenos delitos, como vandalismo do patrimônio, e zero intolerância para diferenças de raça, gênero, orientação sexual e crença.

    Que priorize a tecnologia, estimule novas pequenas empresas, declare guerra de morte à burocracia e possa dar a notícia revolucionária: “Eunápolis é a cidade baiana onde se gasta menos tempo para abrir uma empresa, e onde se abrem mais empresas”. Que diminua drasticamente as secretarias, o funcionalismo e principalmente cargos em comissão. Que determine a publicação on-line, em tempo real, de todas as receitas e despesas da prefeitura.

Que valorize os bons professores com bônus por resultados, eles merecem mais do que ninguém. E não ceda a pressões sindicais para nivelar por baixo os bons trabalhadores, os incompetentes e os vagabundos. Espera-se que trabalhe incansavelmente, acima de advérbios, partidos e ideologias, com os governos federal e estadual, para realizar o maior sonho do eunapolitano: ir e vir em paz em sua linda cidade.

Ainda que pesquisas apontem entre as prioridades o saneamento de bairros da periferia, dificilmente o prefeito a assumirá. Rede de esgoto não dá voto (embora traga saúde e vida). E com certeza recursos serão prioritariamente aplicados em áreas de classes média e alta, formadores de opinião, pois Robério já está de olho em 2026, quando sua esposa, Cláudia Oliveira (PSD), tentará ser reeleita deputada estadual.

    Há que esperar muito pouco do prefeito Robério. Por força da má administração, muitos municípios estão falidos. E a fatia mais gorda dos múltiplos impostos que pagamos é devorada pela União, que costuma tratar os municípios como o senhor da Casa Grande tratava os cães da senzala, atirando-lhes migalhas. O prefeito, quando candidato, fez inúmeras promessas meramente demagógicas, sem respaldo em um Plano Diretor do Município baseado em pesquisas capazes de identificar as reais prioridades e os recursos disponíveis. Há que pensar o município a partir de um Plano Diretor Estratégico que considere, como prioridade, direitos e necessidades do cidadão, e não de fazendas, rádios, trios elétricos, empreiteiras, loteamentos e condomínios.

Para tentar evitar que o prefeito seja mordido pela mosca azul e exigir de sua administração lisura e coragem de enfrentar as “forças ocultas”, só mesmo se nós, cidadãos e cidadãs, assumirmos o que somos: a autoridade maior do município, a quem nossos servidores, custeados com o nosso dinheiro — prefeito e vereadores —, têm a obrigação de prestar contas. Mas, para isso, é preciso que saibamos cobrar.

Todo prefeito é assediado por empresas interessadas em arrancar-lhes dinheiro. Se não houver transparência de um lado e mecanismos de controle do outro, certamente serão beneficiadas, via licitações fajutas, obras de amigos e de amigos dos amigos...

    Dessa vez está tão feia a coisa que, olhando para a minha esperança tão pálida, desejo apenas que o novo prefeito não seja pior do que imagino que será. É muito pouco para uma cidade tão complicada e desigual como a nossa, muito pouco para uma cidade tão insegura e tão cheia de problemas; mas é o que temos para hoje.

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