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12 de maio de 2024

ÉRAMOS FELIZES E NÃO SABÍAMOS

Honrai a Vosso Pai e a Vossa Mãe é causa de um bom caráter!

Sou de uma época em que disciplinar as crianças era coisa natural e corriqueira para os pais e professores. Os filhos podiam levar umas boas palmadas da mãe, se assim o merecessem, e quem decidia a conveniência da reprimenda era ela, no exercício legítimo da sua autoridade materna.

A professora colocava de castigo o aluno desobediente e punha para fora da sala de aula quem desobedecesse às suas ordens, tudo isso sem o risco de ser chamada a dar explicações ao Conselho Tutelar nem de prestar contas ao Ministério Público. Para os da minha geração, pai e mãe tinham autoridade, sim, e sabiam exercê-la com firmeza, delegando parte dela à escola onde nós estudávamos.

Quando eu era criança e adolescente, minha mãe não cansava de repetir: “O que a professora decidir, está decidido”, e ai de mim se ousasse questionar alguma medida das professoras, que deu à minha vida régua e compasso, como na bela canção baiana. Nem por isso nós ficamos com quaisquer traumas, nem acalentamos frustração alguma.

Chamávamos os mais velhos de “senhor”, pedíamos licença para entrar na casa alheia, calávamos quando os adultos estavam falando e jamais interrompíamos uma conversa sua. Eu nunca imaginei sentar-me à mesa sem camisa, “nu da cintura pra cima”, como dizia a minha avó. Se o fizesse, o olhar severo do meu pai, sem pronunciar palavra alguma, doía mais do que uma palmada.

Minha saudosa mãe Nice ensinou-me as “palavrinhas mágicas” – com licença, obrigado, por favor – e jamais permitiu que eu me esquecesse delas. Muita coisa não nos era explicada, e nós simplesmente obedecíamos, sem questionamento qualquer. “É assim porque é, Vaval” – dizia dona Nice, encerrando a conversa sem muita firula, certa de que ela é quem mandava em mim, e não o contrário.

Quando eu queria muito um brinquedo novo e minha mãe não o comprava, eu enchia os olhos d’água, chorava escondido em meu quarto, mas nunca fiz ceninha no meio da rua nem me jogava na calçada aos berros, urrando à maneira de um cabrito sangrado, como tenho presenciado no shopping de Itabuna.

Na minha infância e adolescência, não se via os pequenos tiranos que hoje infestam os espaços públicos, expondo os pais ao ridículo de não serem obedecidos em nada. Talvez fôssemos menos inteligentes, menos perspicazes, menos atentos ao mundo que nos cercava. Mas tínhamos a consciência de que ele não girava em torno do nosso umbigo e de que não éramos senhores absolutos de nada, principalmente de nós mesmos.

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