São curiosos os caminhos da memória e podemos tirar valiosas lições a respeito de seu funcionamento. Por exemplo, em tempos de debates acalorados, nos quais candidatos como o ex-prefeito de Eunápolis, Robério Oliveira, se acusam de terem memória curta e de se esquecerem “do que fizeram no verão passado”, não custa lembrar o funcionamento básico dos nossos mecanismos de memória.
Segundo especialistas no assunto, a memória visual de um ser humano pode registrar cerca de 860 mil imagens todos os dias, 400 mil sons e mais de um milhão de sabores, odores e sensações táteis. Diante de um poder tão grande de retenção na memória, não faria sentido os candidatos carregarem uma pasta cheia de folhas e anotações para usar nos debates, entrevistas e palestras.
Quando falamos na memória do eleitor, é de causar estranheza ver pessoas levando suas memórias artificiais para a urna de votação para conseguir lembrar míseros números de dois a cinco dígitos de seus candidatos. Afinal, o que está acontecendo com a nossa memória? Será que estamos ainda vivendo os efeitos da COVID 19, já que os relatos de lapsos de memória por parte de quem contraiu a doença têm aumentado consideravelmente? É possível que a afirmação de que o povo tem memória curta para política realmente se sustenta?
Já atravessei diversas eleições e sempre trago à tona, no período eleitoral, a discussão sobre memória curta para os assuntos da política. Qual foi o candidato a deputado que você votou na última eleição? Qual era o partido político e o número de votação dele? Quais eram as propostas que ele apresentou para te convencer?
Deparados com essas perguntas, a maioria esmagadora dos eleitores não consegue se lembrar, ou seja, admite que no assunto política, tem a memória curta. Mas, afinal, como gravamos as informações na memória? Por que o tema “política” geralmente cai na “caixa de spam” ou na “lixeira cerebral”?
Muito bem, e onde a política entra nesse processo? A lógica é bem simples: o tema política causa dor? Resposta: não! Nos enche de prazer e vontade de ficar falando a respeito? Resposta: também, não! Nesse caso, por não atender aos critérios básicos de memorização, o tema política e tudo que o envolve, como o nome dos candidatos, nome de partido, número e demais detalhes vão parar na lixeira da memória.
Pergunte a um eleitor se ele se lembra o nome e número dos candidatos que votou na última eleição, e você facilmente irá constatar o fenômeno da memória curta. A boa notícia é que percebo uma mudança de comportamento na população. A memória curta para a política está começando a se transformar em memória forte, de longa duração. O fato é que o jeito dos políticos se apresentarem, as plataformas de comunicação e especialmente a narrativa criada estão impactando a memória das pessoas e imprimindo com mais força as experiências.
Em primeiro lugar, temos uma polarização em que o perfil, a história, o temperamento, o comportamento dos políticos e as ideias que defendem estão ativando nas pessoas estados mentais de euforia, esperança, ódio, medo, ansiedade, indignação, entre outros, ou seja, mecanismos equivalentes aos que são ativados nos cérebros dos torcedores de times de futebol, que consegue lembrar “de cabeça” o nome, sobrenome, idade, nascimento, trajetória dos seus jogadores favoritos e nem precisou de papelzinho para anotar.
Tais estados mentais emocionais por si só já ativam mecanismos de memória de longa duração. Outro ponto importante é que este período pré-eleitoral está se tornando, não sei dizer se de forma deliberada ou não, um roteiro de novela recheado de reviravolta e descobertas bizarras da vida de seus atores políticos. E acompanhar o desenrolar dessas reviravoltas nos dá a impressão de que estamos assistindo a uma novela o que, mais uma vez, ativa nossos mecanismos cerebrais e afastam o fantasma da memória curta.
Não dá para esquecer num processo de campanha eleitoral, o quanto foi desastroso, prejudicial e vergonhoso para a cidade, ter prefeito sendo fraterno e líder de quadrilha de bandidos do colarinho branco, que furtou mais de 200 milhões de reais dos cofres públicos municipais e simplesmente o apoiar porque a atual gestão em três anos, não superou o que ele fez em 20 anos de governo.
Nosso raciocínio lógico é ativado e nos faz ficar preocupados com o futuro, tentando imaginar como será nosso município se político corrupto ganhar as eleições. Ao ativar nossas áreas nobres de processamento cerebral, automaticamente forçamos a criação de novas conexões neuronais e a retenção dessas memórias. E se, como eleitores, continuarmos utilizando esses mecanismos ao pensarmos em eleições, não será difícil imaginar a quantidade de detalhes que guardaremos a respeito de gente que já nos governou, se locupletando do erário para ter mais trios elétricos, fazendas, mansões, carrões e enriquecendo parentes e aderentes diamantes!
Por enquanto continuemos com as “colinhas” e números escritos na mão para amenizar o problema da memória curta e assim evitar que voltemos a energizar verdugos da política, que enriquecem com o endividamento da Prefeitura e empobrecimento do povo!
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