Tenho impressão de que os dias estão cada vez mais curtos! Há em mim uma incômoda sensação de réveillons cada vez mais próximos uns dos outros, ou de semanas que passam tão corridas, que nem noto os dias reiniciarem! Tomo café e logo estou tendo que almoçar, em tempo de não me atrasar para o jantar!
Parece que dias são
resumidos em correria e intensidade, que os abreviam em apenas oito horas de um
dos seus três turnos. São dias onde as necessidades, deveres e compromissos se
avolumam, e dias, noites, semanas são ocupados intensamente, e já não vejo o
tempo passar.
Já não mais me
debruço na janela da vida, para ver a vida passar. Não há tempo, com tão pouco
tempo, para ver a vida. Só me sobra tempo para vivê-la. Com a mente
constantemente ocupada, o pensamento está sempre no próximo compromisso, no
dever seguinte, no compromisso que se aproxima.
Passo a viver o
tempo dos meus compromissos, o tempo da agenda cheia de datas, o tempo de fora.
E o meu tempo de dentro? O tempo de meus sentimentos, do meu corpo, das minhas necessidades
internas, será ele o mesmo tempo de fora?
Ao me atrelar a
tanto e a tudo, meus olhos, mente e preocupações ficam com as coisas de fora e
esqueço das coisas de dentro. O tempo que me submeto para viver, não é o tempo
do meu organismo e das minhas emoções.
Quantas vezes as
refeições são engolidas ao atropelo, quando não esquecidas, prejudicando o
aparelho digestivo? E a mente exigida intensamente, o controle emocional sob
pressão constante, os sentimentos sempre em desafio não encontram espaço para
serem cuidados.
Vivo como se
tivesse somente um mundo externo a cuidar, sem preocupações com o corpo,
descomprometidos com a alma. Como resultado, doenças que se instalam precoces,
níveis de stress ou fobias se instalando em mim, sinalizando que algo está
errado.
É verdade que a
vida é feita de desafios, e que devo cumprir minhas obrigações profissionais,
buscar melhorar minha condição de vida, dar conta dos compromissos assumidos.
Mas nada disso me
impede de viver como alguém que não esqueceu que tem alma, e que o corpo é
somente veículo de que essa se utiliza, buscando aprendizado. Desta forma, não
me deixo envolver tão intensamente pelas coisas do mundo, já que ele é passageiro,
e de eterno, somente minha alma.
Coloco em minha
agenda o meu tempo de oração, os momentos de meditação, as horas de reflexão
tão necessárias para a vida de dentro. Dou a mim mesmo a oportunidade de
almoçar com o prazer de sentir o gosto da comida, de desfrutar da companhia de
quem compartilha a mesa, de respeitar o tempo de dentro.
Mesmo que a vida me exija muito, e o tempo fique minúsculo, as coisas de dentro terão sempre tanta importância quanto as coisas de fora.
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