Se bem soubéssemos, prestaríamos muito mais atenção e dedicaríamos todo o tempo possível aos pequeninos, não apenas aos nossos, mas a todos. Se tentássemos entender o que de verdade existe nas entrelinhas das suas afirmações e a profundidade dos seus questionamentos, enriqueceríamos bastante os nossos conhecimentos.
A espontaneidade e
a sinceridade desses iluminados muitas vezes nos colocam em situações, no
mínimo, pitorescas ou constrangedoras. Temos que estar bem atentos ao responder
ou tentar explicar às crianças determinadas questões ou situações. A
compreensão desses pequenos gênios é direta. Não há sentido figurativo, meio
termo ou meias verdades. Sei bem como é difícil explicar certas evidências,
justificar determinadas situações e atitudes.
Sou pai e avô, mas
sempre fui acima de tudo amigo, companheiro, cúmplice e parceiro. Lembro-me bem
de situações vividas que, se escritas, dariam interessantes e divertidos
textos. Certa vez, num momento de refeição com a família, fiz um comentário
sobre uma certa pessoa inconveniente e indiscreta, que frequentava regularmente
nossa casa, chamando-a de cara de pau. Não percebi que aquele assunto estivesse
sendo acompanhado, com tanta atenção, pelos pequenos à mesa.
Dias depois, ao
recebermos aquela costumeira visita, eis que surge o pequenino com a seguinte
pergunta: ¨ Pai, um pau não é fino e comprido?¨ Olhei mesmo sem entender o
objetivo da pergunta e expliquei que existem paus finos e compridos, entretanto
existem também de diversos outros tamanhos e espessuras. Embora, após a
explicação, deveria ter dado o assunto por encerrado, resolvi perguntar o
motivo da pergunta.
Para minha
surpresa, a resposta veio rapidamente e de forma objetiva: “ Você disse que
fulana era cara de pau. “ Eu não acho! Pois a cara dela é pequena e redonda e
não comprida e grande. Por um momento, um silêncio constrangedor tomou conta do
ambiente e não havia nada que pudesse ser feito para remediar ou pelo menos
minimizar o mal estar ao qual, merecidamente, fui submetido.
Outro fato, dessa
vez, pitoresco, e que demonstra a forma de compreensão e percepção dos fatos
pelas crianças, demonstra que elas estão com o WIFI ligado, conectadas a tudo e
a todos, captando da forma mais simples, direta e lógica, obviamente do seu
ponto de vista, tudo o que acontece ao seu redor.
Apaixonado por
animais, um dos filhotes, recebeu de presente um pintinho, que, rapidamente,
tornou-se o xodó da casa. Não resistindo aos apertos carinhosos e ao excesso de
alimentação, o bichinho não resistiu e morreu. A avó, na intenção de não
traumatizar o neto, decidiu simular uma fuga para justificar seu
desaparecimento e amenizar a possível tristeza que sua morte causaria à
netinha.
Pegou o pintinho
e, sem perceber que estava sendo vigiada, dirigiu-se ao quintal e o enterrou.
Como nada escapa aos olhinhos vigilantes dessa turminha esperta, o pequenino
assistiu a tudo sorrateiramente, e decidiu fazer greve com a avó, passando a
ignorá-la, não atender aos seus apelos e não querer frequentar sua casa nos
almoços dos finais de semana.
Incomodado com tal
fato, chamei-o para conversar. Sentei-me em frente a ele e, carinhosamente,
perguntei o que estava havendo que ele, tão apaixonado pela avó, estava tendo
esse comportamento. Para minha surpresa, ouvi uma resposta inusitada: “Não
quero mais saber da vovó, ela plantou meu pinto”.
Esses dois exemplos, entre tantos outros, demonstram o cuidado que devemos ter com as crianças, esses seres maravilhosos que dão sentido à nossa vida e, mais ainda, que nos ensinam, além de muitas outras coisas, a entender e a lidar com imaginação, percepção e sinceridade.
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