Sempre foi um problema para os gregos antigos a degradação das coisas por todo canto. Nada perdura. O corpo, a árvore, até a rocha se desfaz diante da inevitável ação do tempo. Só os deuses eram eternos e essa diferença explicava sua superioridade. Corromper é estragar, perder sua forma e sentido originais. Uma maçã esquecida na gaveta corrompe-se. Um arquivo de computador que não consegue abrir e mostrar seu conteúdo, corrompeu-se. Nossa vida é um remar contra a maré da efemeridade de tudo, iludindo-nos com a ideia sempre presente de que podemos chegar a
algum lugar onde tudo é sempre o mesmo, sem fins e sem novidades. A
degradação das coisas está nas coisas mesmas. Hoje há uma palavra para designar
quando isso ocorre nos objetos: é o prazo de validade vencido. Tudo têm um
código interno com a data de seu fim, entendendo-se fim como a impossibilidade
de continuar a exercer a função esperada. Proteger contra a ação externa serve
apenas como uma forma de evitar acelerar esse processo, mas ainda não foi possível
modifica-lo a ponto de inverte-lo ou, ao menos, desliga-lo. Ou seja, tudo
caduca e depois estraga-se, deixando de funcionar. Para alguns casos, chamamos
a esse processo, "morrer".
Na
Política, a corrupção é o desvio da finalidade que esperamos dos órgãos e/ou
dos seus representantes. Quando se espera que o dinheiro dos impostos seja
usado, por exemplo, para a construção de escolas, mas descobrimos que parte
desse dinheiro foi usado na campanha eleitoral do governante e, graças a isso,
ele recebeu mais um mandato, há aqui um duplo estrago: o do fim não alcançado e
o do erro quanto à pessoa renovado. Se descobrimos coisas assim, sentimo-nos
traídos, enganados. Não que não saibamos que tudo estraga, mas nunca é fácil
verificar que o momento é chegado.
Por
isso queremos governos que não sejam corruptos. É preciso que, por um tempo,
eles funcionem. Imaginar que não vão se estragar é uma dessas ilusões que só a
falta de escola explica. Ou a falta de governos que usem o dinheiro dos nossos
impostos na construção delas. Como tudo, tudo estraga. Inclusive os governos.
Daí precisarmos refunda-los de tempos em tempos.
Muitas vezes comparamos nossa esperança na escolha, com a realidade que o tempo impõe. Não temos um preparo - a escola, de novo - para identificar nas diversas atitudes dos governantes e dos agentes públicos em geral aquelas que aceleram a sua corrupção. É fato que muitas vezes, aqueles que são capazes de perceber o andar da carruagem não são aqueles que são capazes de deter os cavalos. Mas, mesmo assim, o caminho é um só: governos, como tudo o que nos rodeia, possuem seu tempo para acabar; e para evitar escolher governos estragados ou que se estraguem rapidamente, precisamos observar atentamente e agir rapidamente, sempre tendo em mente a experiência dos exemplos já ocorridos - rememorando-os - para que nos ajudem nesse refundar constante que é o da nossa existência nesse mundo.
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