Cuma quer vender a Emasa para tirar a prefeitura do buraco! |
O acesso à água
potável e ao saneamento básico foram reconhecidos como direito do ser humano
pela Organização das Nações Unidas. A resolução declara que “o direito a uma
água potável, limpa e de qualidade e a instalações sanitárias é um direito
humano, indispensável para gozar plenamente do direito à vida”. No entanto,
milhares de pessoas em Itabuna não têm acesso a água potável e outras milhares
não dispõem de instalações sanitárias adequadas. Serviço absolutamente
essencial, a coleta e o tratamento de esgoto tem sido deixados de lado por
sucessivos governos. Para uma cidade que é a maior do sul da Bahia, essa
situação é inaceitável, principalmente porque quem tem mais sofrido com essa
situação são as crianças. A inexistência de rede de distribuição de água
potável, associada à falta de coleta e de tratamento de esgoto, cria um
ambiente insalubre que propicia o desenvolvimento de doenças fatais. O que mais
surpreende no esgoto é o seu poder destruidor, sua capacidade de atuar em todo os
bairros da cidade e de se infiltrar em todos os níveis da sociedade. O bairro
Góes Calmon não possui um só metro de tratamento de esgoto, embora seus moradores
pagam 70% para esses serviços não prestados pela Empresa Municipal de Água e
Saneamento (Emasa). A imagem de crianças brincando em meio aos esgotos e lixo a
céu aberto é tocante aos olhos de qualquer um. Existem bairros como o Nova Esperança,
Santa Clara, Monte Cristo, Corbiniano freires e dezenas de outros, onde esse
problema existe em quase todas suas ruas e praças. O principal impacto disso,
ou melhor, o impacto mais visível dessa cena é a diarréia. Os pais levam a
criança ao posto de saúde com dores abdominais e o médico faz o diagnóstico de
parasitose; descreve o tratamento recomendando a ingestão de um medicamento
antibiótico e soro. A criança toma o medicamento como prescrito, mas já na
próxima visita ao médico retorna com o mesmo problema. Depois de três ou quatro
crises de diarréia, a criança cria imunidade e, então, desde que haja uma boa
nutrição, as diarréias parecem ficar menos importantes, uma vez que a criança
se recupera bem. Apesar de mínimas, este quadro freqüente de diarréias deixa
seqüelas a médio e longo prazo. Além das diarréias e outras infecções causadas
pela falta de coleta e de tratamento de esgoto, outras doenças prejudicam o
desenvolvimento e condenam essas crianças em longo prazo. Se pegarmos crianças
de 0 a 5 anos, os danos são ainda maiores: são permanentes. Trata-se de doenças toxicológicas causadas
pela contaminação por substâncias químicas vindas de causas e produtos
diversos, tais como a lata de refrigerante, a lata de tinta, garrafas PET, óleo
de cozinha, sacolas plásticas, entre outros objetos que são lançados
diariamente no rio Cachoeira, seus afluentes e nos esgotos a céu aberto das
comunidades carentes em toda a cidade. É despejado, diariamente, mais de 85% de
esgoto sem tratamento algum, contaminando solo, rio Cachoeira e mananciais, com
impactos diretos à saúde da população itabunense. Engana-se quem pensa que os
impactos da concentração de lixo nos esgotos a céu aberto e no rio Cachoeira
afeta apenas a saúde daqueles que moram nas comunidades carentes. Grande parte
dessas substâncias tóxicas que estão concentradas nos esgotos a céu aberto são
voláteis e evaporam levando o “problema” para uma área muito maior. Veja só:
todos os anos, no início do ano, nossas cidades sofrem com as enchentes.
Imagine você, que trafega pelas redondezas do rio Cachoeira e seus córregos,
por exemplo, ou de qualquer canal da cidade. Com as chuvas, todo aquele esgoto
que está sendo jogado direto no rio irá evaporar e você irá respirar esse ar
contaminado pelas substâncias químicas. Não há escolha, você pode estar na
parte rica ou pobre de Itabuna, mas você será atingido por esse verdadeiro
inimigo invisível. Infelizmente, nossos governantes ainda têm uma visão míope
sobre a questão do saneamento básico: constroem teatro e centro de convenções
enormes para artes e cultura e esquecem de investir em uma área que é
fundamental, que representa um investimento, que no futuro irá refletir em uma
economia enorme que é, por exemplo, a de não ter que cuidar de uma criança com
deficiência mental, intelectual, imunológica ou de saúde decorrente da
exposição a substâncias químicas que permeiam o nosso país. A sociedade itabunense
precisa estar alerta que o problema toxicológico causado pela falta de coleta e
tratamento de esgoto e que não está restrita apenas às comunidades carentes.
Basta um vento mais forte ou uma chuva para carregar as substâncias tóxicas
para muito mais longe, contaminando e condenando, em porções homeopáticas, toda
a sociedade. Tais substâncias, despejadas diariamente em nossos rios pelos
esgotos, são um verdadeiro inimigo invisível. A sociedade deve se unir e cobrar
de seus políticos e governantes um olhar mais atento e investimentos
prioritários na coleta e tratamento de esgoto devem ser feitos para garantir
qualidade de vida à nossa população e, principalmente, às nossas futuras
gerações.
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