Nem todos políticos do PV, estão com o candidato do Lula |
Em 1972, aos 19 anos, o estudante de medicina Gilberto Natalini foi preso e torturado durante 60 dias. Segundo ele, um de seus algozes foi o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, ex-chefe do DOI-Codi (Destacamento de Operações de Informações do Centro de Operações de Defesa Interna), órgão de repressão da ditadura militar. Então militante pela abertura democrática e atualmente vereador paulistano pelo PV, ele recebeu choques elétricos que causaram danos permanentes à sua audição. Hoje, ele tem capacidade auditiva de 60% no ouvido esquerdo e 80% no direito. Ustra tem sido lembrado com frequência nesta eleição. O presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) já manifestou sua admiração pelo coronel diversas vezes ao longo de sua trajetória, e tem "A Verdade Sufocada", de autoria de Ustra, como livro de cabeceira. O PT veiculou propagandas em que mostrava Bolsonaro como devoto de Ustra e favorável a torturas. A veiculação do material foi suspensa pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O passado traumático com o torturador, no entanto, não fez com que Natalini direcionasse seu voto a Fernando Haddad (PT). O vereador não concorda com o argumento de que no petista se encontra a "saída democrática", como parte de seus apoiadores têm defendido, e vê no PT uma "quadrilha de corruptos" que prejudicam a democracia por meio dessa categoria de malfeitos. Sendo assim, ele escolheu anular seu voto, ainda que ele mesmo seja um político e que, grosso modo, dependa dos votos em sua carreira. Por sua posição, o vereador tem sido pressionado por seguidores de ambos os candidatos. O médico vê a ascensão de Bolsonaro como fruto de erros do PT, que, segundo ele, depois de fazer "falcatruas ao chegar ao poder" esvaziou o cenário político e ideológico nacional, "jogando vitamina no canteiro para ressurgir a direita mais troglodita e burra que o Brasil possuiu e que estava adormecida". Segundo ele, um ambientalista histórico, Bolsonaro tem uma visão "do século 12" do meio ambiente, e será necessária "muita luta" para conter os planos do presidenciável, caso ele vença. Sobre o PT, Natalini diz que "não vota em quadrilha", em referência aos escândalos nos quais o partido se viu envolvido nos últimos anos. Como vereador, ele fez dura oposição aos prefeitos petistas Marta Suplicy e Haddad. Para ele, o partido que hoje disputa contra Bolsonaro construiu "uma estrutura criminosa para fazer inveja a qualquer máfia do mundo, com chefe, subchefe e comandados". "Denunciei a roubalheira da ciclovia do Haddad, o superfaturamento na compra de salsichas. Eles vieram gradativamente piorando, roubando cada vez mais. Até hoje o PT rouba onde pode. É um descaramento muito grande", completa, dizendo que não escolhe o PT por uma questão de "assepsia moral". Para ele, o risco à democracia apresentado por Haddad é igual ao que apresenta Bolsonaro, que seria apenas mais explícito em seus aspectos antidemocráticos ao louvar as décadas ditatoriais. Confrontado sobre uma possível contradição de ser um vereador e pregar o voto nulo, Natalini discorda e diz que "Anular o voto não é negar o voto. Não vou deixar de votar. Mas se você não tem candidatos em que você tenha o mínimo de confiança ou esperança, como que você vai depositar seu voto em quem você não vê a menor condição de representar a consciência cidadã? Não é omissão. É muita coragem de dizer que vou votar nulo", diz. "O voto nulo é um instrumento democrático das eleições. Significa que você não se satisfaz com o que sobrou. Não acredito em Bolsonaro por ser um arauto da tortura nem no PT por ter sido a organização que assaltou os cofres públicos e levou o Brasil a essa crise civilizatória pela qual está passando."
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