Os suicidas nunca saberão o quanto foram egoístas e estúpídos! |
Dificilmente alguém não chorou, sofreu,
desesperou ou tenha se sensibilizado diante da morte de um ente querido, de um
prestimoso amigo, de alguém que admirasse ou até mesmo de pessoas que nem tinha
intimidade. A tecnologia ainda não foi capaz de mensurar qual a extensão, nem
tampouco a profundidade da dor dos que ficam e precisam tocar em frente a vida,
porque não tem outro jeito. Embora a solidariedade e o apoio sejam sempre
bem-vindos e façam toda a diferença nessa hora de vivenciar o luto, sabemos que
nem sempre perduram por muito tempo e voltar para casa e reescrever as linhas
da própria história cabe tão somente aos que ficaram. Se lidar com o luto
natural é uma tarefa que requer muita disposição e coragem, que dirá lidar com
a separação daquele que atentou contra a própria vida, num momento de
desespero, de impulso, de desatino ou até mesmo de descontrole psicológico, que
a fatalidade também fosse instrumento de uma partida inesperada. Certamente só
os familiares e os amigos chamados carinhosamente de amigos-irmãos, saibam
dimensionar o tamanho dessa dor que amanhece e anoitece cheia de "por
quês". Especialistas que mediam grupos dessa natureza afirmam que viver o
luto de um suicida é muito mais doloroso, mais intenso e duradouro para os
familiares que de alguma forma se veem envolvidos por uma atmosfera de
cobranças internas de ter de achar causas e culpados para aquela morte, e
muitas vezes não aceitam que as respostas também se foram junto com quem
morreu. O efeito emocional de um suicídio é devastador. Supõe-se que para cada
ato suicida, mais de cem pessoas ficam traumatizadas ou psicologicamente
abaladas, ainda que mal conheçam a pessoa. Além de toda a dor que precisa ser
administrada, existe também o estigma que se instala impiedosamente no seio
familiar como dardo a ferir os enlutados. Não são poucas as situações em que o
acolhimento que deveria brotar dos familiaes mais próximos se esvai no
distanciamento porque nem todos conseguem falar francamente sobre o assunto, as
pessoas não sabem o que dizer. Então se calam ou se afastam e os que ficam,
permanecem emocionalmente vulneráveis. Assistir na Globo uma reportagem que
revelava o drama de que são quase 800 mil mortes por suicídio todos os anos no
mundo. É o mesmo que dizer que a cada 40 segundos uma pessoa comete suicídio.
No Brasil, são mais de 11 mil mortes dessa natureza, por ano. É preciso que se
divulgue mais as ações positivas que existem mundo afora. Se o mundo atravessa
momentos de desatino e desalento, há com certeza contrapontos em todos os
lugares onde o bem vem se fortalecendo e abrindo as portas da esperança para um
porvir mais amoroso para a humanidade. É preciso pensar no bem, gerar o bem e
divulgar o bem. Isso faz toda a diferença. Democratizar informações sobre o
suicídio, sobre a existência de grupos de apoio, de ações solidárias que
precisam da participação de todos, com toda certeza poderão fazer a diferença
no olhar daqueles que se encontram enclausurados neste momento na escuridão
interior. Chega de tapar os olhos com a peneira e empurrar os sentimentos para
debaixo do tapete! Abraçar de fato os familiares que ficaram, bem como os
amigos próximos, sem medo, sem reservas, sem atribuir culpa ou buscar causas, é
mais que um ato de misericórdia e de amor fraternal, é um ato de cidadania. E
não julgar! Lembrar e falar daquele que partiu como suicida com alegria, com
amorosidade, com respeito, é atitude cristã. Qualquer um de nós que sentiu de
alguma forma os reflexos de uma morte dessa natureza é também um sobrevivente
desse ato. Pensemos nisso!
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