Quanto mais envelhece, mais as pessoas se tornam crianças! |
A velhice quase sempre se associa a
decrepitude, perdas, inferioridade. Num tipo de sociedade que se ergue sobre
valores materiais, não poderia ser diferente: o desprezo pelo idoso está na
raiz desse tipo de estrutura social. Neste mundo em que se exalta a juventude
como um estado eterno, o vigor e a beleza como referências existenciais, a
pouca idade como síntese de todos os valores, nesta época, neste mundo de hoje,
algum papel existe para ser desempenhado pelo avô? Num tempo que se alicerça no
materialismo, terá sentido cultuar essa figura que, antigamente, era
santificada? Dentro de uma economia de mercado, que tem no pragmatismo sua
diretriz, é cabível consumir recursos públicos com um grupo etário que pouco
produz? Os avós têm um duplo papel: na família e na sociedade. Na família os
avós são conselheiros dos pais e dos netos. Podem transmitir ao vivo a
experiência que nenhum livro, ou programa radiofônico, ou televisivo, é capaz
de traduzir. Os avós são apoio em inúmeras situações e emergências. Integram a
família. Feliz da família na qual comparecem os avós. Na sociedade, os avós
transmitem ao presente a herança do passado. São depositários da sabedoria
acumulada através de milênios.
Até os pequenos
gestos revelam a atitude respeitosa ou desrespeitosa para com os idosos. Ceder
o lugar ou a passagem ao idoso, mostrar-se disponível para ajudar nas mais pequenas
e breves situações, tudo isso demonstra o nível de educação de uma comunidade
no relacionamento com os avós. Precisam todos, mas principalmente os jovens, de
orientação para escolher caminhos que contrastam com o modelo social imperante,
vazio, sem alma, desumano. Um dos pesos da idade para muitos idosos é a viuvez.
Se o casal desfrutou, em plenitude feliz, de longa vida em comum, aquele
cônjuge que fica sofre muito a ausência daquele que partiu. A respeito desse
fato, que belo o exemplo do grande pensador Ernesto de Souza Campos. Viúvo,
Ernesto lia toda manhã uma das cartas de sua mulher. Somente uma. Nunca mais de
uma. Era a fruta saborosa daquele dia, segundo suas palavras.
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