Inquietudes de Selem Rachid são confirmadas nos tempos atuais |
O saudoso professor, pesquisador, escritor e pensador da sociológia
sulbaiana, Selem Rachid Asmar, com inspiração imortal, analisou a concepção dos
gregos antigos sobre a verdade. Escultores geniais representaram sua imagem na
beleza translúcida do mármore – uma deusa sustentando na mão direita um disco
do sol e na esquerda um livro aberto contendo uma palma, aos pés o esplendor do
globo terrestre. Séculos depois, Jesus de Nazaré diante de Pilatos, submetido
ao julgamento descrente dos homens ímpios, questionado sobre seu reinado
espiritual, respondeu: “É como dizes, eu sou rei. Foi por isso que nasci e vim
ao mundo, para dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade ouve a
minha voz”. O filho de Deus ainda indagado sobre a verdade não concebe em
palavras a expectativa do inquisitor. A plenitude de seu olhar substitui a
resposta que a humanidade ainda hoje gostaria de ter. O processo da história
não tem esclarecido a misteriosa interrogação. As atitudes e as ações dos
estadistas, através dos tempos, têm acentuado a angústia da falta dessa
percepção. A questão política moderna em torno do poder oculto ou da verdade
oculta tem atormentado os pensadores do nosso tempo. Dominados pela conhecida
afirmação – o poder tende a esconder-se. O cientista social, Selem Rachid,
ainda realçava – o poder gosta de se esconder, mas tenta atrair pelos seus
privilégios, seduzindo o povo pela opulência e ampla influência. Com o segredo,
o poder espalha temor; com o extravagante ritual, o poder busca seduzir. O
temor e o respeito estão intimamente ligados à questão do segredo do poder, que
se sente tanto mais forte quanto mais secreto. Se o poder quer se fazer temer,
deve se revelar o menos possível para o mundo exterior. Outra regra, ensinada
pelo mestre Selem – o máximo da corrupção corresponde ao máximo do segredo. O
contrato lícito pode ser resolvido em plena luz do dia; o operado ilegalmente
acontece na penumbra das sombras. Na seara sentimental da sociologia, nem
sempre estão claras as circunstâncias dos fatos. Existem as verdades secretas,
as quais não revelam de imediato, o perfil de seus personagens e a intensidade
de suas paixões. Shakespeare traduziu com sabedoria – pobre é o amor que pode
ser medido e logo compreendido.
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