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A linha da vida humana não deve continuar sendo abatida |
Estava acompanhando uma campanha nas redes sociais provocada por uma suposta garfe de Fátima Bernardes, onde, na versão dos manifestantes, teria induzido, não sei como porque confesso que não assisti o programa, a salvar a vida do “bandido” em detrimento da vida de um policial. Pois bem, o mais absurdo dessa campanha, não são as pessoas tomarem lado, nesse caso o “vilão” e o “mocinho”, mas a banalização da vida, que nos leva ao completo estado da barbárie. O mais absurdo é ver pessoas de bem, pais de famílias, pessoas cristãs defendendo a execução sumária, a retirada de uma vida. Vivemos em um estado de direito, onde quem comete crime tem que ser punido pelo crime que cometeu, de acordo com o que está escrito nos infindáveis artigos, parágrafos e alíneas de nossas leis e, pelo que me consta, em nenhum deles está escrito ou permitido a pena de morte ou a execução sumária. Tenho completa certeza que alguns interpretarão esse texto da forma que lhe é mais conveniente, com jargões do tipo: “Mais um defensor dos direitos humanos”; “Tá com pena de bandido? Leva ele pra sua casa!”. Outros dirão que estou contra a polícia. Na verdade, o que quero esclarecer aqui é que quando se diz respeito a uma vida, seja ela de quem for, não se pode fazer juízo de valor, porque a vida não tem preço e não é comparável, devendo-se fazer todos os esforços para preservá-la e isso é um dos pontos que nos diferencia dos animais. O que dizer das pessoas que são executadas por milícias de policiais? São todas bandidas, mereceram morrer? E o que merecem os Policiais do Bope RJ, tidos como exemplo dentro da Polícia como um batalhão incorruptível (quem lembra do filme Tropa de Elite?), que vendiam informações, armas e extorquiam traficantes? Merecem a pena de morte também? Por acaso a mesma lógica do “bandido bom é bandido morto” não deveria se aplicar a eles? NÃO! Essa lógica não deveria se aplicar a ninguém, nem aos policiais e nem aos traficantes, todos deveriam ser levados a julgamento, pagar pelo crime que cometeram, cumprir sua pena determinada por quem tem a competência de fazer isso e não por justiceiros travestidos de falsos moralistas. Nem vou entrar no mérito do nosso falho sistema judiciário e nem pelo fato de nossos presídios estarem abarrotados de pobres e negros, enquanto os crimes de colarinho branco demoram uma eternidade para serem julgados e sentenciados, isso é um papo para outro texto, mas a idéia é chamar a atenção pra um processo preocupante de banalização da vida, onde ao invés de as pessoas estarem cobrando justiça, estão apoiando, incitando e compartilhando com orgulho em suas redes sociais tais execuções, torturas e mutilações. Execuções sumárias cometidas por agentes do estado, linchamentos cometidos pela população, presídios, repressão policial, e outras medidas paliativas e sem eficácia real, não resolverão o problema do tráfico e da violência enquanto existir pobreza e miséria, enquanto a paisagem contrastar com favelas e condomínios de luxos. É preciso enfrentar o problema de forma muito mais profunda, precisamos repensar nosso sistema judiciário, desmilitarizar nossa polícia que ainda carrega a lógica da ditadura e o mais importante, investir pesado na educação, pois como afirmou Paulo Freire, tão questionado por aqueles que hoje defendem que “bandido bom é bandido morto”: “A educação não transforma o mundo, transforma pessoas e pessoas transformam o mundo!” Menos ódio e mais bom senso!
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