O governo não está controlando o fogo que o PCC espalha no país |
Há onze
anos, 564 pessoas foram mortas numa guerra entre agentes da segurança pública
de São Paulo e a facção criminosa PCC (Primeiro Comando da capital). A maior cidade da
América Latina parou: escolas fecharam, ônibus deixaram de circular (90
veículos foram incendiados) e as pessoas se recolheram em casa, temendo
atentados a bala que entre os dias 12 e 13 de maio de 2006 mataram 59 agentes –
postos policiais e delegacias foram metralhados. As forças se segurança
retaliaram e muitas famílias ainda choram as mortes de inocentes. Por
trás de tudo, Marco Camacho, o Marcola, chefe do PCC, a mesma facção envolvida
na chacina de Manaus que chocou o mundo. Marcola queria um tratamento mais humano nos
presídios e também, alegam ONGs que acompanharam o episódio, se vingar dos
policiais que haviam sequestrado seu enteado e exigido dinheiro. A facção pôs
nas ruas não apenas membros das suas hostes, mas gente que lhe devia dinheiro,
cuja dívida seria paga com os ataques. Puro terror. A coisa chegou a tal ponto
que os ataques só cessaram depois que representantes do governo paulista (negou)
se reuniram com Marcola e pediram trégua. O que aconteceu em São Paulo
gerou pilhas de documentos, análises conjunturais e propostas para resolver a
situação carcerária no Brasil. Apesar dos aspectos conflitantes, havia um
consenso: o PCC teria que ser enfrentado e desmantelado. Passado todo esse
tempo, a facção cresceu e domina hoje, internamente, a maioria dos presídios
brasileiros e comanda o crime nas ruas. Todos esses assassinatos
deveriam nos ensinar algo, mas as reações advindas com o que ocorreu em Manaus
e Roraima oscilam entre o horror e o aplauso: consternação pelos corpos
esquartejados e júbilo por tantos bandidos mortos de uma tacada só. O que
deveria servir para reflexão, o aglutinar de ideias para sairmos da barbárie,
aprofundou ainda mais o fosso entre os que têm uma visão sociológica do fato e
os que acham que bandido bom é bandido morto, não sabendo estes que os presos
estão custodiados, responsabilidade do Estado. Apesar de tudo, somos uma
Nação, e o conceito de Nação vai além de um povo unido pela língua. Pressupõe
que os cidadãos vivam numa sociedade organizada, cada qual com seus direitos e
deveres. Para os que saem do controle existe a Lei, se a Lei é branda, que se
reforme a Lei, no caso a Constituição. Já é tempo de nos livrarmos do entulho
legal, que beneficia a tantos, e estabelecermos uma nova ordem. Precisamos
voltar a nos orgulhar de sermos uma Nação.
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