Júnior do Trator surpreendeu ao se eleger vereador pelao PHS |
Uma das surpresas na eleição de 2016 em Itabuna foi Edmilson Cabral de Santana Júnior. Quem? Poucos o conhecem pelo nome de batismo. Mas “Júnior do Trator”, como foi registrado na urna, é uma figura conhecida em diversos bairros da cidade. Aos 32 anos, o morador do Parque Boa Vista tem ensino médio completo, é tratorista há uma década e considera ser esta a sua maior paixão. Ele trabalhou na Secretaria de Desenvolvimento Urbano durante aproximadamente três anos. E atribui a tal experiência a fonte da popularidade que lhe rendeu 1.449 votos pelo PHS, já na primeira candidatura. Mas não nega que a doação de água, durante a crise hídrica, também motivou a gratidão das pessoas.
O QUE LHE DESPERTOU PARA ENTRAR NA POLÍTICA? - Sou da área da infraestrutura e trabalhando nas comunidades via a situação dos bairros. Decadência grande, esgotos a céu aberto; eu via esse descaso grande e sem poder fazer nada. Só ‘alisar’ pra lá, pra cá, sem ter autonomia nenhuma. O povo: ‘passa aqui na minha rua’, ‘passa na outra’, eu não podia e falei: tenho que buscar o melhor, buscar uma autonomia maior, que foi ser candidato a vereador.
O SENHOR TEM UM TRATOR E AS PESSOAS LHE CHAMAM PARA IR MELHORAR AS RUAS? - Há três anos e alguns meses, eu era contratado da prefeitura, na Sedur [Secretaria de Desenvolvimento Urbano]. Quando souberam que eu era candidato, me mandaram embora sem aviso, sem nada. Fui demitido porque eles queriam me obrigar a apoiar o governo atual. Não achei de acordo pela situação em que estava o município, que não andava e muitos mandavam.
E FOI ESSE TRABALHO COMO TRATORISTA QUE LHE DEU POPULARIDADE? - Meu trabalho com a comunidade já vem há bastante tempo. Eu me visto de Papai Noel há sete anos e dou brinquedo às crianças em vários bairros. Temos um grupo de 20 pessoas (Amigos Solidários) e fazemos o sorteio do bairro que vamos. Eu e minha mãe, Marta Tavares, somos líderes do grupo.
NO PERÍODO DA CRISE HIDRICA, O SENHOR TERIA FEITO UM POÇO ARTESIANO E UMA CISTERNA, PARA DOAR ÁGUA À COMUNIDADE. ESSE TRABALHO FEZ COM QUE AS PESSOAS SE SENTISSEM GRATAS E DESEJASSEM VOTAR EM JÚNIOR DO TRATOR? - Acredito que sim. Porque até hoje eu dou [água]. Agora mesmo, tenho dois mil litros pra levar nas ruas, eu não parei. Sou um cara que faz o bem sem olhar a quem. A água contribuiu bastante, mas foi antes de política, eu nem sonhava em ser candidato. Eu me comovi, porque somos carentes de tudo no Parque Boa Vista. O povo estava vendendo muita água lá, eu me chateei; tinha um carro importado, que trabalhei em Brasília um ano, no [Estádio] Mané Garrincha pra comprar, e vendi esse carro aqui na cidade pra abrir um poço. Isso foi compromisso meu com Deus, não tem nada a ver com política.
É UMA PESSOA RELIGIOSA? - Não. Eu tenho muita fé em Deus, mas não tenho nenhuma religião.
O QUE O SENHOR ESPERA FAZER AO SER EMPOSSADO VEREADOR? - Meu plano é retribuir a confiança que depositaram em mim.
COMO? - Com trabalho. Buscar melhorias, principalmente na infraestrutura, porque a gente é jogado nos esgotos a céu aberto, ruas todas deterioradas. Vou buscar recursos junto com o Legislativo.
COMO SERÁ SUA RELAÇÃO COM O PREFEITO? - Eu acredito que vai ser ótima. Na verdade, a gente não sabe quem vai ser o prefeito ainda. Mas, se for Fernando Gomes, vai ser ótimo; porque ele vai precisar da gente e a gente vai precisar dele.
COMO O SENHOR SE COLOCA DIANTE DAS ARTICULAÇÕES DOS CHAMADOS VEREADORES NOVATOS PELA ELEIÇÃO DA MESA-DIRETORA DA CÂMARA? - Estamos nos reunindo [duas vezes por semana], mas a mesa a gente não decidiu ainda. Queremos manter os novatos, mas ainda não discutimos quem vai ser o presidente. Está todo mundo pensando igual, interagindo, pra daí sair o presidente.
SE LHE FOR COLOCADA A POSSIBILIDADE DE SER O SENHOR O CANDIDATO A PRESIDENTE, É UM JEITO SEU? - Desejar eu não desejo, mas se for a vontade dos colegas, estou aberto.
NÃO DESEJA POR QUE? - Porque eu acho que não tenho essa experiência toda ainda. Vou criar experiência lá dentro.
COM ESPERA QUE SEJA O PERFIL DO PRESIDENTE DA CÂMARA? - Que ele pense igual e que dê igualdade para todos. Porque nessa gestão o vereador não teve a autonomia que necessita. Presidente de bairro teve mais autonomia do que vereador. Eu andava nos bairros e via que os presidentes [de bairro] que acompanhavam a gente. Vereador nenhum esteve presente em nenhum momento, em nenhuma obra, não fiscalizou nada. Então, ficava ao ‘Deus dará’. É preciso verificar as necessidades da população e, se o secretário não estiver fazendo nada, não estiver apto para a função dele, a gente poder tirar. Só quem tem autonomia pra tirar é o prefeito, mas quem recebe as críticas somos nós, vereadores. Os vereadores precisam cumprir o seu papel de fiscal. Por Celina Santos/diariobahia.com.br
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