TODOS OS DIAS SÃO DIAS DAS MULHERES E DAS FAMÍLIAS |
Dia 8 de março há uma espécie de comoção geral, todas as entidades públicas e privadas fazem conferências alusivas ao Dia da Mulher, as televisões desdobram-se em edições especiais sobre a desigualdade, o fardo da dupla jornada e o horror da violência doméstica. É a mesma história há anos. E no dia seguinte voltamos a ter as mulheres como cidadãs de segunda, ou pelo menos como titulares de direitos de segunda. E sempre as perguntas: mas porque é que você diz "direitos humanos das mulheres?", ou "mas você não acha que não faz sentido ter um dia da mulher já que não há um dia do homem?", ou a tão em voga "mas você não acha ridículo essa coisa do "eles e elas"?" Pesquisando na internet, encontrei números que preocupam: no mundo apenas 22% de mulheres nos parlamentos e 16% nos executivos; que uma em cada três mulheres sofrerá ao longo da sua vida uma forma de violência; que há 200 milhões de mulheres que foram vítimas de mutilação genital feminina e que se o ritmo atual continuar teremos mais 15 milhões até 2030; que todos os dias casam cerca de 38 mil meninas, 14 milhões todos os anos; que os crimes de honra todos os anos ceifam a vida a milhares de mulheres; que os crimes ligados ao dote matam com igual virulência; que a violação como arma de guerra é recorrente em todos os conflitos armados por todo o planeta; que a maior parte das vítimas de tráfico de seres humanos são mulheres; que a seleção pré--natal do sexo e o infanticídio de meninas em algumas partes do mundo põem em causa a sustentabilidade demográfica de regiões e interpela, em baixa, todas as projeções populacionais anteriores pois faltam mulheres; que 99% das mortes maternas por causas evitáveis ocorrem em países em desenvolvimento; que há mais de 220 milhões de mulheres que querem e não têm acesso a meios e serviços modernos de planeamento familiar e tantas outras que não podem decidir autonomamente sobre a sua fertilidade; que faltam respostas adequadas ao género e à idade para mais de 25 milhões de mulheres que estão em situação de precisar de assistência humanitária; que as mulheres ganham menos do que os homens e que, por isso, para ganharem o mesmo teriam que trabalhar mais; que nos meios de comunicação social apenas uma em cada quatro notícias é dada por mulheres ou sobre mulheres. Se as mulheres perfazem mais de 50% da humanidade como é que se pode tolerar este balanço, sobretudo quando se sabe como construir mais igualdade? Não chega um dia internacional da mulher. Dia 8 não nos deem flores ou chocolates. Ergam a vossa voz e empenhem-se na igualdade. É bom para as mulheres, mas também para as sociedades: a igualdade reduz os custos da discriminação e aumenta a produtividade e prosperidade. E mais do que isto são direitos humanos. Universais.
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