TODO MUNDO QUER IR PRO CÉU, MAS NINGUÉM QUER MORRER |
Ao me deparar diante de tantas lamentações e reflexões nesses últimos dias sobre nossa existência, sobre o sentido da vida e, principalmente, sobre a morte, estancadas nas redes sociais e nos diferentes veículos de comunicação, devido ao falecimento de líderes políticos, artistas e atentados covardes na França, Síria e Iraque, nessas últimas semanas, surgiu a ideia de tratar de forma mais racional sobre esse "mal" que atormenta a humanidade desde sua existência. A morte é, sem dúvida, a musa inspiradora da filosofia e da religião. Inúmeros são os filósofos a tratar do tema e até Freud escreveu sobre a morte, tratando de como termos a certeza da morte nos influencia inconscientemente muito mais do que costumamos imaginar. Alguns afirmam temer a morte pela dor que ela pode causar. Essa afirmação em nada é verdade. Não podemos dizer temê-la por conta da dor sofrida no momento em que vem. Quantas vezes nos ferimos ou até nos cortamos e nos damos conta da dor momentos depois? Bem assim é a dor na morte: quando ela chegar, a consciência já está aniquilada e assim não se é possível senti-la. Não a desejamos nem ao pior de nossos inimigos. Ela é a única verdade que se tem da vida. O animal não sabe da existência da morte, mas qualquer ato que ameace a sua sobrevivência o faz fugir. Imagine um simples mosquito: não tem consciência de que a morte existe, basta levantarmos a mão para que voe longe daquela ameaça de morte. É dentro dessa análise que nos cabe afirmar que o medo da morte não provém da razão. A vontade de viver corre "as veias" de todo ser vivente. Por mais doente e debilitado que esteja alguém, ainda assim quer continuar a viver. É justamente essa vontade de viver, que fez a religião criar "antídotos" contra a certeza da morte. Imaginemos todo sacrifício por que passamos para estudar, trabalhar, constituir uma família, um vasto patrimônio e ter que deixar tudo isso ao morrer. É mesmo doloroso ou no mínimo desmotivador. É melhor vivermos acreditando que após a morte da matéria gozaremos eternamente num lugar onde tudo será de graça, onde haverá justiça, a viver sem nenhuma esperança. É mais consolador. Determinado dia estava eu em uma festa na qual havia uma multidão. Comecei a observar as pessoas. Parei num canto e chamei um amigo, a quem disse: "olhe bem para todas essas pessoas! Em cem anos, ou pouco mais, nenhuma delas mais existirá". O olhar dele transpareceu que eu estava a falar o óbvio, mas nessa reflexão há algo mais profundo: o ser humano se vê como eterno. E, em se vendo como eterno, a morte o atormenta pelo fato de que em um dado momento não será mais. O homem que consegue manter esta percepção, estará muito mais bem preparado para a morte.
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