Ricardo Campos com estiagem como abacaxi para descascar |
A
dobradinha escassez de chuvas e racionamento de água vivida em Itabuna – são
quase dois meses sem uma gota sequer – assustou os itabunenses. Até então, esta
crise, que muitos entendiam ser exclusividade dos nordestinos, principalmente
dos cearenses, pernambucanos e paraibanos; e mais recentemente, dos
paulistanos, não parecia ser uma realidade nossa. Mas ela chegou e, o que é
pior, se instalou. E mesmo que haja períodos de chuvas com a intensidade de
antes (o que inevitavelmente irá acontecer, já que a natureza é cíclica), o
passivo gerado fará com que a nossa realidade, com relação ao acesso à água
tratada, seja cada vez mais preocupante. E será que nós, itabunenses, estamos
entendendo bem o que significa viver dentro deste novo cenário? Mobilizados,
não resta dúvida que estamos. É impressionante a capacidade de mobilização que
as pessoas demonstram em momentos de crise! A imprensa também está
desempenhando muito bem o seu papel. Diariamente o tema é manchete na mídia e
presença certa em todos os bate-papos. O tom é quase sempre o mesmo. Nas falas
sobram cobranças ao poder público e orientações sobre como economizar água nas
atividades domésticas e empresarial. Mas, daí a incorporar os novos hábitos, em
definitivo, em nossa rotina e na agenda de prioridades das autoridades, é outra
coisa. A discussão tem que ser muito mais profunda, abrangendo não apenas ações
de curto prazo para superarmos este momento de crise mas, e muito mais
importante, devemos aproveitar o momento para planejar o futuro da nossa relação
com o uso da água, para que o mesmo seja mais responsável e eficaz em toda a
cadeia de abastecimento. A equação é simples: A oferta de água tratada deve
ser, no mínimo, igual à demanda dos consumidores (são eles residências,
industrias, comércio e agricultura). Se neste momento de escassez hídrica a
Emasa não consegue manter o seu volume de oferta para atender à demanda,
existem duas soluções objetivas (não excludentes entre si): a primeira, mais
dispendiosa, é realizar investimentos de obras estruturais para aumentar a
oferta. A segunda, menos dispendiosa e mais imediatista, é intervir no lado da
demanda, via redução do consumo e implantação de sistemas de redução de perdas!
Parece obvio, mas infelizmente não é. De acordo com informações da própria
Emasa, uma grande e preocupante perda deste valioso recurso acontece antes
mesmo dele chegar às torneiras dos consumidores. O desperdício médio é de mais
de 40% de toda a água tratada! Imagine uma padaria, que de cada 100 pãezinhos
que são produzidos, 40 tem que ser jogados fora por imperícia do padeiro! As
causas são diversas: vão de fraudes (os populares ‘gatos’) à falhas no sistema
de distribuição e transporte, como vazamentos em tubulações e reservatórios ou
fruto de ligações feitas da forma inadequada. Como a maioria da tubulação é subterrânea,
muitos dos vazamentos não são facilmente identificados, havendo um sangramento
permanente. O consumo residencial é outro que tem cota elevada de desperdício.
Usar água tratada para dar descarga e lavar quintais e calçadas são alguns dos
absurdos cometidos. Entre esses grupos, a indústria e o comércio, normalmente,
tem menor participação no desperdício da água. Focadas em gestão de resultado,
elas buscam maior eficiência econômica e consequente redução no seu uso,
minimizando perdas, sempre e quando estão sujeitos ao justo pagamento pelo uso
da água. Por conta de tudo isso, fica a dúvida: será que bastam a mobilização e
os apelos para que mudemos nossa conduta em relação ao consumo da água em
momentos de estiagem? Ou será que após as primeiras chuvas, seguidas pela
elevação no nível dos rios, tudo volta a ser como antes, esperando para
lamentar os caprichos de “São Pedro”, quando voltarem a ocorrer momentos de
excesso ou de falta de chuva? Com esta lição aprendemos, no mínimo, que o uso
racional e consciente da água será essencial, mas sabemos também que
transformar pessoas e agendas políticas não é tarefa fácil. Vivemos na cultura
do “fazejamento” em detrimento do planejamento! Gerenciar crise com ações
imediatas, é importante, pode salvar vidas. Planejar ações no tempo é
inteligente, imprescindível. Pode salvar as nossas futuras gerações!
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