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Câmara

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10 de fevereiro de 2015

NEM TODOS OS ANJOS SÃO TOLOS

Drogas fazem até canário virar canalha e mau caráter
A malícia é um dos valores mais cobrados desde a primeira infância. E aos do sexo masculino, bem mais. Parece sinônimo de inteligência e avidez. As meninas parecem herdar este atributo mesmo sem lhes ser cobrado. Com os meninos é diferente, à proporção que vão crescendo, o pai, geralmente, induze-lhes esta malícia para com os amigos, as moças e com a vida em geral. Faz parte do seu amadurecimento, do projeto de sua masculinidade. Fará parte da personalidade do futuro adulto, do chefe de família. A argúcia que todo mundo gostaria de ter para enfrentar a vida. Às vezes o indivíduo fica adulto e não adquire este dom, se é que podemos chamar assim. Passa a vida inteira sendo enganado porque não pensa mal de ninguém, não tem o mínimo da desconfiança nata de todo indivíduo. É alvo de piadas sem que consiga deduzir com rapidez o significado. É devagar para compreender um sorriso fora de hora, um olhar avesso ou uma cara feia. Não é burrice. Funciona como uma espécie de inocência que se perpetua com o passar do tempo. A evolução da malícia passa por uma fase chula que se reporta à canalhice. O indivíduo consegue transformar qualquer frase em alguma pornografia. E, sobretudo, se houver uma plateia capaz de rir a ópera-bufa tem mais graça. A mente parece viver pronta a produzir cada vez uma provocação. É o próprio deleite do choque que causa e a criatividade que se revela ao bizarro. Alguns ficam famosos pelo anedotário medíocre que engendra, onde o palavrão se amolda de forma magnífica. É o próprio efeito da vulgaridade na fluência verbal. E enfim o orgulho pessoal de um ator diante da plateia. Uma simbiose. Um existe pelo outro. Há quem escute e goste. Há quem seja obrigado a escutar.

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