A
glamourização do branco faz com que um mendigo, veja você, vire um mendigato; a
traficante branca é chamada de jovem, linda e dentista pelo noticiário; a ladra
de automóveis é chamada de estudante e garota… Corta pra mim. Agora eu te
pergunto, se fossem negros qual seria o tratamento? Primeiro que o moleque sem
camisa e sem estudo seria chamado de traficante perigoso e se sorrisse na foto
o chamariam de cínico e frio, diriam que ele zombava da polícia e da sociedade.
Vai vendo. A
modelo loira, viciada em crack, ganhou tratamento gratuito, pago por uma
emissora de TV. Enquanto isso, “pretos imundos” tomam porrada na cracolândia. A
faculdade de medicina da USP tá cheia de estupradores brancos e ricos, não
aparece um nome no noticiário, uma mísera foto. As acusações são graves. As
vítimas estão lá dando nomes. Cadê os perdigueiros, cadê os repórteres
investigativos, quêde aqueles valentes jornalistas que entram em favelas com
coletes à prova de bala, atrás do Caveirão a procurar adolescente aviãozinho,
magro, de chinelos e sem camisa? Custa dar um pulo na USP, respirar um ar puro
e perguntar para as moças violentadas quem são os estupradores? Estupradores,
filhos de mulher, gente execrada até por bandidos perigosos, estão a ser
protegidos pela mídia. O macho branco tudo pode. Recentes pesquisas do IPEA e
do Ministério da Justiça revelam que a maioria das penas alternativas são
aplicadas aos brancos, negros são com maior frequência condenados à prisão. Depois
perguntam por que diabos as focas estão a estuprar pinguins. Palavra da
salvação. Por Lêle Teles.
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